Saudades

Rolls Gracie

Rolls Gracie, meu irmão por escolha de ambos, foi, de longe, o melhor e mais completo praticante de Jiu Jitsu em nossa geração. Conhecia muito bem as outras artes marciais: o sambô russo, o judô, o wrestling tão praticado, sobretudo nos EUA, a luta livre. Treinou boxe com o professor Santa Rosa, na academia da Lapa, no Rio de Janeiro. Atleta completo e pertíssimo do perfeito!

Machucado pela perda de meu filho Arthur Bisneto, mas nem assim consegui deixar de, mais uma vez, homenagear esse irmão que o destino me deu.

Rolls, Receba meu filhão, que você conheceu criança e cuide do seu sobrinho com o carinho que ele merece.

Imagine, Rolls, que nunca superei de verdade a sua morte. E sinta como está aberto um vazio torturante no meu peito.

Faz tempo que não vejo Ângela, Rollezinho e meu afilhado de casamento, o Ígor. Mas eles sabem que sempre estarei junto, em qualquer circunstância.

Rolls, você ainda ia fazer 32 anos, quando, há mais de 40 anos, partiu rumo ao infinito!

Um dia, estaremos juntos de novo, estou seguro disso. E meu Arthur estará conosco.
Um abraço e um beijo no amigo que virou irmão. Neto.

Guerreiro Robson Gracie

Guerreiro Robson Gracie.

Faleceu, aos 88 anos, o guerreiro Robson Gracie. Soube agora. Mais um irmão que o destino tira do meu coração. Saibam, meu sobrinho @RenzoGracieBJJ e minha irmã @flaviagracie e todos de uma grande família que sempre me considerou como um dos membros, que meu coração está moído de dor e que explodirá em saudades depois.

Gostava de conversar com Robson. Gostava de concordar com ele. Gostava de teimar com ele. Coisas de irmãos verdadeiros! Tarcísio me avisou, Ricardo Arthur também. Perdemos Robson na matéria, mas vamos manter Robson Gracie vivo em nossos corações.

Lembro de sua luta com Valdo Santana. Robson levava desvantagem e tio Carlos, findo um round, disse a Robson que iria jogar a toalha. Resposta do guerreiro: “pai, se vc fizer isso, vou arriar a sunga e ficar nu.

Robson enfrentou a adversidade até soar o último gongo. Vai se encontrar com meu irmão Rolls, que o amava. Robson foi barbaramente torturado no DOI CODI. Passou 64 dias preso. No dia em que foi solto, foi, com Rolls, me convidar pra ir ao cinema. Ricardo e eu fomos.

Robson Gracie, cabra da peste valente e resistente, morreu. Nós, de certa forma, morremos um pouco também. Vai com Deus, Robson. Beija Rolls por mim. Esse deixou uma saudade que volta toda hora. Beija o Carlson e diz que falo tanto dele, que ele tem de estar ouvindo.

Robson Gracie, beija Rose e todos da família que já se foram. Beija tio Hélio que, volta e meia, brigava comigo pelas aprontações que minha idade impunha. Beija o teu/nosso Ryan, menino bravo que o destino massacrou. Beija tio Carlos, sempre sereno e sábio.

Robson Gracie, meu irmão, saiba estou muito triste. Um animal ferido. Até um dia!

Neto

Judy

Judy

Seu pai, meu amigo Joelson, falou. Hesitei muito… e decidi falar também. Perdemos a Judy para o ingrato lúpus. Perdemos aquela alma pura e linda para um sofrimento que emociona todos nós, que a amamos acima da vida e da morte. Penso na mãe, Hilza, na Janine, na Jade, no pai extremado.

Judy Cristine, a minha Judy, era amiga em tudo. Continuará sendo, porque, as lembranças equivalem à vida, ao sempre, ao eterno. As saudades são e serão muitas. Saudades meigas, dolorosas no início, apascentadas mais adiante. Saudades e ternura atravessando os tempos.

Falávamos longamente ao celular e estavam sempre presentes, no meu amor de “pai”, sua precocidade, maturidade, sabedoria e delicada coragem.

Judy, muitas vezes, pedia a Joelson que me ligasse e eu, pelo meu lado, dificilmente falava com ele e Hilza, sem insistir em falar com Judy, a minha Judy.

Acompanhei sua dor física, pressentia os riscos, sentia o desfecho destrutivo que, mais tempo, menos tempo, viria para levar uma personalidade singular, um coraçãozinho limpo, uma criança que virou mocinha sem reclamar do destino, sem se queixar de nada.

Quando falávamos, ela me confirmaria a paz no coração ou me transmitiria a tranquilidade que me estivesse faltando.

Judy se foi e tentei escrever para ela algumas vezes. Não conseguia. Não aceitava a passagem da minha amiguinha muito querida. Hoje, me armei de força e resolvi enfrentar a verdade.
Tão cedo não falaremos, ela e eu. Mas sei que, um dia, não sei em que tempo, nos encontraremos…e seu sorriso encherá minha alma de alegria. Foi preciso buscar a coragem da Judy para conseguir escrever, marcado por lágrimas que não tive como conter. Como não chorar por Judy? Como enganar a mim mesmo e passar por cima de ausência tão dura?
Judy era cristã convicta, como suas irmãs e seus pais. Sua segurança, jamais corroída, vinha de sua fé. Em Deus, no filho Jesus, fé na fé.

Arrisco dizer que Deus a recebeu e se encantou por ela. Acredito que Ele a mostrará como exemplo a ser seguido pelos que têm bondade infinita nas suas almas, nos seus corações.

Tenho confiança em que Judy está lendo cada palavra que lhe envio, de sentimento para sentimento, de dor para dor, de esperança para esperança.

Um dia nos reveremos, minha Judy! Prepare um sorriso dos seus, daqueles que ecoarão por toda a eternidade.

Foi duro escrever, filhota! Impossível ler o que escrevi, sem derramar lágrimas amargas. Falar pra você me deixa em pedaços. Terei, eu também, que me acostumar.

Com muita ternura, seu amiguinho, amigo, amigão, que admirará sempre tudo que viu de sua vida pura, valente, sensível e estóica.

Você é inesquecível, Judy. Antes, agora e para um sempre sem fim!

CARTA DE LIVIA MENDES AO SEU PAI AMAZONINO

Ele não está morto!
Não como todos insistiam que seria.
Não se “morre” a obra de tantas vidas.
Vidas que couberam no coração desse grande Amazonense.
Ao nascer nós choramos e ao partir nós dormimos.
Ele dormiu e eu vim, como prometi, pra dizer que tá tudo bem. Que ficaremos todos bem e que tá na hora de parar de se preocupar.
E isso não se estende só a nossa família, mas a todos os amazonenses que ele conheceu e procurou servir.
Trouxe estradas, construiu casas, escolas e uma universidade pública, conseguiu cartão pras famílias antes do bolsa família ser realidade no Brasil.
Homem forte.
Meu pai.
Digno, amado e respeitado.
Ele sabia de tudo ao redor e se preparou pra isso.
Nós também.
Foi no tempo de Deus e não dos homens.
Foi com dignidade, como todos nós, seres humanos merecemos partir.
Não deixou nada por fazer e nada por viver.
Foi uma vida extraordinária para aquele caboclo do interior.
Ele se provou um grande estadista, um político de vocação, como já não existe mais.
Meu pai Amazonino Armando Mendes é para sempre o sinônimo do Estado do Amazonas.
Da cor morena, do sorriso lindo, da esperteza das calhas, do peixe, da farinha, do “cozidão”, das frutas que só a gente tem.
Papai, como as barrancas, se deixou levar pelo rio da finitude do corpo, para depois voar livre desse mundo difícil que tanto lutou por melhorar.
Meu pai. A de Ama. A de Alma e M de muitos, pois nele habitavam engenheiros, médicos, juristas, contadores, arquitetos, poetas e ribeirinhos.
Ele amava o Amazonas, como um pai ama seu filho. As vezes com a dureza que precisava ter para que vivêssemos o melhor de nós mesmos.
A boa notícia é que a morte é passagem para um outro lugar.
E portanto eu repito.
Não se “morre” o que é eterno!
Porque o amor fica, enquanto a alma se liberta.

Livia Mendes, filha.

ADEUS, AMAZONINO!

Amazonino e Arthur

Nossas vidas se encontraram e desencontraram inúmeras vezes. Em momentos delicados, como a defesa da Zona Franca de Manaus e outras prerrogativas do Amazonas, invariavelmente, nos unimos.

Discutimos, brigamos muito, porém tivemos tempos saborosos de discutir história, literatura, arte, vida.

Meu primeiro governo na prefeitura coincidiu com grande parte do seu primeiro mandato como governador. E trabalhamos juntos e bem.

Lembro, como se fosse ontem, da visita informal que você fez, para me abraçar e dizer que estava deixando o governo, para disputar o Senado. Em agradecimento a isso, visitei seu escritório político e dialogamos por horas a fio.

O que, no fundo, nos aproximava era o conteúdo intelectual de cada um. Nós tínhamos ideias para trocar, saindo do “rame-rame” de fulano vai ganhar, beltrano tem ou não tem votos e coisas assim. Creio que essa era a mágica, era o amálgama que nos atraía mutuamente.

Essa relação, que não era diária, não era contumaz, se dava com alegria e descontração, os momentos sendo todos eles aproveitados.

Você deixa saudades na nossa gente, na minha esposa, nos nossos filhos e netos. Deixa saudades em mim. Ficou um buraco. Que deve ter ido com você, também.

Lembro que estávamos brigados, quando você surgiu com a UEA. Tive de admitir a grandeza da ideia. E a uni à do meu pai, seu amigo e candidato tantas vezes, criador da UFAM. Comoveu bastante, Amazonino.

Peguei meu segundo Covid e, por isso, não irei beijar sua fronte. Estou bem, graças a Deus, mas prejudicaria muitas pessoas, se aparecesse na sua despedida.

Recomendei ao Armando que fizesse como fiz com meu pai: não permitir “comícios” que misturem saudade com temas menores.

Um dia nos reencontraremos na eternidade e com os nossos queridos, que já esperam por você. Uma grande reunião, uma grande celebração, abraços, carinho, saudades deles, que já estão lá, por você, que estará chegando.

A vida é isso mesmo. É um tempo, um ciclo. Você lutou como uma onça do Amazonas. Recebi notícias, pelo Armando, todos os dias.

Confesso que estou sentindo falta de você. Sei que a recíproca deve ser semelhante.

Adeus, por enquanto, governador Amazonino Armando Mendes. Deus lhe receberá de tapete vermelho.

Com admiração para sempre, Arthur Virgílio Neto.