A PL do veneno e os riscos ao meio ambiente e ao próprio agronegócio

Segundo Arthur, é o clássico caso da raposa tomando conta do galinheiro

A Câmara dos Deputados aprovou nesta semana, por 301 votos a favor, 150 contra e duas abstenções, o Projeto de Lei que concentra no Ministério da Agricultura o registro de agrotóxicos. Defendido pelas bancadas ruralista e bolsonarista, apelidada por ambientalistas de “PL do veneno”, o projeto, entre outras mudanças, tira da Anvisa e do Ibama o poder de decisão sobre o registro dos agrotóxicos. Os pareceres dos dois órgãos passam a ser apenas consultivos. É o clássico caso da raposa tomando conta do galinheiro.

Tomara que o Senado esteja consciente do que é entregar para um órgão simpático e influenciado pelas causas e demandas do agronegócio a aprovação futura desses registros, do risco que o próprio agronegócio corre, caso não haja parcimônia na política brasileira voltada para o setor, e enterre de vez essa PL que pode prejudicar, inclusive, as exportações brasileiras.

É fato que a commodities estão em alta e entre elas estão alguns dos nossos principais produtos de exportação, como a carne bovina e a soja. Mas, é fato também que já estamos na lista da Comunidade Europeia, que estuda vetar a compra de produtos oriundos de regiões que não atendam às boas práticas ambientais. E o agronegócio no Brasil está distante, bem distante, de atender a esses princípios.

A aprovação da PL do veneno enfraquece ainda mais a legislação atual e aumenta os riscos à saúde pública. Se propõe única e exclusivamente a beneficiar os interesses do agronegócio e entra na engrenagem que vem provocando adoecimento da população, desmatamento, violência e morte.

Não sou contra o agronegócio, muito ao contrário. Entendo-o como um fator de extrema importância para a economia brasileira, para o equilíbrio da balança comercial. Mas, antes de tudo, a vida. Não dá para pensar o Brasil apenas com as cifras, mas sim olhando bem de perto todo o contexto social e humano que cada decisão envolve.

Sem soluções ambientais, Brasil se condena à miséria

“Para o Brasil ser aceito na OCDE se faz urgente e necessário uma completa guinada na sua política ambiental e na sua política de desenvolvimento econômico”

O Brasil recebeu, recentemente, convite para renegociar sua entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 38 países para estimular o desenvolvimento econômico e o comércio mundial, com sede em Paris. Esse é um plano antigo, mas que segue aos trancos e barrancos. Colômbia e Chile já estão lá, assim como Austrália, EUA e quase toda a Europa.

Um dos principais requisitos para a entrada do país na OCDE e investir em qualidade ambiental e, consequentemente, a Amazônia está mais que dentro da questão. É claro que para o Brasil ser aceito na OCDE se faz urgente e necessário uma completa guinada na sua política ambiental e na sua política de desenvolvimento econômico para a região Amazônica, com foco no aproveitamento das potencialidades naturais de forma sustentável. Também se faz urgente e necessária a recomposição das contas públicas.

O Brasil precisa estar muito atento a esse movimento, até porque a Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, anunciou em novembro de 2021, uma lista de produtos que serão submetidos a “desmatamento zero” para entrar na Europa, entre eles três dos quais o Brasil é o maior fornecedor – soja, carne bovina, café -, além de cacau, madeira e óleo de palma, e alguns produtos derivados como couro, chocolate e móveis. A proposta está em exame na Comissão de Meio-Ambiente do Parlamento Europeu, tendo como relator o deputado Christophe Hansen, democracia-cristão, de Luxemburgo, que já afirmou que a tendência é ampliar a lista.

O Diálogo Brasil-EUA sobre sustentabilidade e mudança do clima, lançado em julho, discutiu quatro frentes onde a cooperação poderia atuar: reduzir emissões, financiar a conservação das florestas tropicais, promover a agricultura sustentável e construir parcerias com comunidades indígenas. Se o Brasil não ficar esperto nessa questão, além de perder o bonde da história, perder seu maior patrimônio e trunfo para o futuro, estará condenado também a exportação do agronegócio, responsável pelo relativo equilíbrio da balança comercial e do PIB. Nesse caso, vão-se os anéis, os dedos e até as mãos. Acorda Brasil! Sem Amazônia, não há futuro!

É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

 

O mundo começa a entender a Amazônia

País investe pouco ou nada em Pesquisa e Desenvolvimento

Desde o meu primeiro discurso na Câmara dos Deputados, ainda na década de 80, tenho mostrado a importância da Amazônia e a necessidade de que o governo brasileiro proteja a floresta, os rios, sua gente, sua fauna, flora e, consequentemente, busque promover o desenvolvimento sustentável da região. Hoje, essa ideia que cultivo há tantos anos está sendo difundida e o mundo começa a compreender, ou ao menos a tentar compreender, a Amazônia.

Esta semana, por exemplo, li um excepcional artigo da jornalista Julia Marisa Sekula, especialista em tecnologia verde, sobre a intersecção entre biologia e deeptech – startups e ecossistemas que trabalham tecnologias complexas e solução de problemas de alto impacto – diante da maior ameaça já enfrentada pela humanidade que são as emergências climáticas. As soluções, diz ela, não virão pela engenharia, como no século XIX, nem pela química ou física, como no século XX, mas pela natureza.

Nessa perspectiva que une as transformações tecnológicas e a natureza, a Amazônia brasileira se apresenta como protagonista absoluta. A floresta amazônica será, sem dúvida, a fonte das maiores descobertas e, como venho defendendo durante toda uma vida; a floresta em pé é mais que nosso maior seguro de vida, em termos de sequestro de carbono, é a maior base de dados para fomentar essa revolução global.

O Brasil precisa reconhecer essa verdade universal. Se não abre o olho, se não busca parcerias das agências mundiais especializadas em deeptech, se não busca alternativas de desenvolvimento socioeconômico sustentável para a floresta e seus habitantes, perderá seu maior trunfo. O país investe pouco ou nada em Pesquisa e Desenvolvimento e, nesse caminho, perderá tudo, incluindo as exportações do agronegócio, porque é cada vez mais claro que os países deixarão de comprar nossos produtos, buscando sucedâneos que não tragam a marca da destruição ambiental.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Covid-19 chega à maior taxa de transmissão no Brasil

Cada 100 pessoas infectadas contaminam outras 178

Apenas cinco estados brasileiros apresentam estabilidade ou queda no número de contaminações pela Covid-19, todas causadas pela nova variante ômicron, já considerada pelas autoridades sanitárias mundiais como a mais avassaladora em poder de contágio. Sob vários aspectos, a ômicron me parece mais grave que a perversa versão original, porque contamina mais pessoas e mais velozmente. E provoca mortes também. Cada 100 pessoas infectadas contaminam outras 178, segundo Imperial College de Londres. Há claro descontrole no esforço de conter a nova variante.

A taxa de transmissão da Covid-19 no Brasil atingiu o pior patamar desde julho de 2020. Enquanto isso, um novo colapso no sistema de saúde parece cada vez mais próximo. A ocupação de leitos de UTI já está próxima de 100% em vários estados. No meu Amazonas, a situação se agrava pelo desgoverno na saúde pública. Estamos em uma pandemia cruel e duradoura. As autoridades não podem mentir. Quem sofre dessa compulsão deve conter-se. Uma situação grave dessas só pode ser enfrentada com verdades.

É desconcertante que, aproximadamente, 90% dos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva não se vacinaram ou não completaram o ciclo recomendado pela ciência. Não brinquemos com a pandemia. Não tripudiemos sobre a vida.

A população deve estar consciente de seus atos, dar um basta ao negacionismo e se precaver, se proteger, seguir as orientações científicas e médicas. Por si e por quem ama. O direito individual de se recusar a adotar medidas de proteção e de tomar a vacina não pode estar acima do direito coletivo de se proteger dos riscos da pandemia.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Brasil: Um trem desgovernado

Combustível, gás de cozinha, energia elétrica e alimentos foram os “vilões” da inflação

O IBGE confirmou recentemente que a inflação de 2021 foi de 10,05%, superando os dois dígitos. É a maior registrada desde 2015 e os números divulgados superam em quase 50% a meta prevista para o ano de 2021, de 5,25%. Combustível, gás de cozinha, energia elétrica e alimentos foram os “vilões” da inflação. Fica muito difícil crer que, em 2022, os números que traduzem a triste realidade brasileira serão diferentes e mais promissores. Estamos às portas de uma estagflação. E não há luz no fim do túnel. Ou sim, há, e é a de um trem desgovernado.

Os senadores criaram uma medida provisória para tentar conter os aumentos sucessivos dos preços dos combustíveis. Uma tentativa de regularizar o mercado estabelecendo cotas mínimas e máximas para o imposto de exportação. Mas, ainda há muito chão pela frente para chegar a uma decisão, pois apenas passou na Comissão de Assuntos Econômicos. E o que dizer da energia elétrica e do gás de cozinha? Ainda não vi nenhuma reação dos órgãos competentes e do governo federal para estancar essa sangria nos bolsos da população.

A inflação ganha corpo e velocidade na mesma proporção que o governo perde a sua credibilidade, sem acenar com qualquer possibilidade de crescimento econômico, aumento na oferta de emprego e, com isso, levando ao chão as previsões de crescimento do PIB. O dólar vai continuar subindo, pressionando preços no Brasil. Repito: quem paga o preço da alta na inflação é sempre o mais pobre.

O que dói mais é saber que os alimentos estão com os preços descontrolados, como do frango e do ovo, que se apresentavam, até agora, como o guarda-chuva na mesa dos mais pobres. O frango subiu mais de 40% nos últimos 12 meses e superou a carne bovina. Esta, por sua vez, está sumindo da mesa dos brasileiros. Em 2020, o consumo de carne caiu 10% em relação ao ano anterior e, em 2021, o consumo de carne bovina foi o menor em 25 anos. A fome é uma triste e brutal realidade que só cresce em nosso país.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Thiago de Mello – Verdadeira expressão de amazoneidade

Thiago foi adido cultural em Santiago (Chile) e não teve qualquer dúvida em acolher os exilados brasileiros

Thiago de Mello foi um grande amigo, companheiro da Academia Amazonense de Letras, companheiro de vida. Era poeta maior que sua poesia, uma glória da literatura latino-americana. Filho dos Andirás, em Barreirinha, onde construiu uma belíssima casa, projetada pelo também imortal arquiteto brasileiro Lúcio Costa. Tinha um acervo enorme de fotos, quadros, bilhetes – entre eles um do Pablo Neruda – obras autênticas que foram doadas para o Museu da Cidade, durante a minha gestão como prefeito de Manaus, e que se transformaram em uma preciosíssima exposição.

Thiago foi adido cultural em Santiago (Chile) e não teve qualquer dúvida em acolher os exilados brasileiros, como José Serra e Paulo de Tarso, por exemplo, dando também grande apoio ao presidente Fernando Henrique e a tantos outros. Foi um nome de grande importância para esse momento da história brasileira, que estava sujeita a um regime autoritário.

Thiago era tudo isso e muito mais. Uma verdadeira expressão de ‘amazoneidade’. Simples, com suas roupas brancas e sandálias, a cabeça branquinha dava a identidade de quem viveu muito e de forma grandiosa. Estava à frente de seu tempo e, ainda assim, carregava a tradição de suas terras amazônicas, com raízes fortíssimas na região.

Talvez ninguém tenha falado o ‘caboquês’ tão bem quanto o Thiago de Mello. Porque falava da alma, do coração, de seu imenso amor e sentido de pertencimento por essas terras. “Filho da floresta, água e madeira vão na luz dos meus olhos, e explicam este jeito meu de amar as estrelas e de carregar nos ombros a esperança”, como ele próprio se definiu.

Você partiu, meu amigo. Mas, não seu coração, sua alma, sua mente brilhante, essas nunca se irão. Você será eterno em nossos corações. Estamos de luto, mas sua inspiração nos faz seguir em luta.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Fé, empatia e respeito à ciência

Aproximadamente, 30% da população não recebeu nenhuma das quatro doses já disponibilizadas para uso

É surpreendente o número de pessoas não vacinadas no Brasil contra o novo coronavírus. Aproximadamente, 30% da população não recebeu nenhuma das quatro doses já disponibilizadas para uso. É mais surpreendente ainda quando estamos cientes de que 80% das mais de 300 mil mortes por Covid-19, ocorridas de março a novembro de 2021, foram de pessoas não vacinadas e mais de 81% das pessoas internadas nesse período também não estavam vacinadas. Então, o espanto: por que? Por que as pessoas, mesmo cientes de todos os riscos que estão correndo e que estão levando aos seus entes queridos, se recusam a fazer o ciclo de imunização?

A pandemia de Covid-19 nos tomou a todos de surpresa, não sabíamos muito bem como lidar com ela, mas isso foi há dois anos. Os progressos que a ciência trouxe ao combate, com o desenvolvimento de vacinas, está ajudando na normalização da vida no planeta. Mas, já podemos afrouxar as medidas? Já podemos caminhar tranquilamente pelas ruas, sem máscara, sem uso das medidas sanitárias recomendadas? Absolutamente, não.

Recentemente, o mundo registrou dois recordes sucessivos de Covid-19, com 2,59 milhões de casos em apenas 24 horas (05.01) e 2,4 milhões (04.01). Esses números estão diretamente ligados a variante Ômicron, transmitida com mais facilidade que as variantes anteriores. Ou seja, fica cada vez mais claro que a Covid-19 vai permanecer ainda por muito tempo em nossas vidas e que devemos nos convencer de adotar as medidas para nos proteger e aqueles que amamos. Pais, mães, avós, filhos, vizinhos, amigos… tantos que se foram. Não pode ser em vão e nem precisamos mais ver famílias se esfacelando.

Vacina, vacina e vacina. Esse é o caminho. Os governos precisam adotar novas estratégias de convencimento da população não vacinada, fazendo buscas ativas. E as pessoas devem ter consciência de que a máscara é o novo acessório de seu vestuário, por um longo tempo. É preciso também vacinar as crianças, acabar com discursos e práticas estúpidas que deixam milhões de brasileiros indefesos. Vidas importam!

Para virar essa página, vencer o medo, é preciso – acima de tudo – fé em Deus, com mais empatia, cuidando de si e dos seus semelhantes, mais respeito à ciência, à vida e aos verdadeiros valores que fazem com ela valha a pena. Juntos, cada um fazendo a sua parte, podemos vencer o novo coronavírus, controlar sua evolução e minimizar seus efeitos. É gente cuidando de gente.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Vamos falar de 2022?

O ano que se inicia é, realmente, de grandes mudanças

Viramos o ano, mas ainda não viramos a página. Vamos iniciar 2022 ainda sob o espectro da pandemia, do desemprego, da fome e dos ataques ao meio ambiente, e na perspectiva, nada agradável, de uma estagflação – recessão econômica + inflação alta – no Brasil, acentuando todos os sinais já emitidos em 2020 e 2021.

Com tudo isso na cabeça poderíamos receber 2022 com rancor e um certo fastio. Mas, o que separa os homens dos demais seres vivos do planeta terra é a sua capacidade de rever e prever. Aprender com suas próprias experiências e se renovar. O ano que se inicia é, realmente, de grandes mudanças. Começando pelas mudanças de governantes – ou não – com as eleições que se aproximam , mas algo de novo tem que haver, nem que seja a vontade do brasileiro de realmente mudar o seu destino e caminhar para esse lugar do futuro que se chama expectativa, a boa expectativa, esperar e ver o melhor sem perder o foco.

Temos, neste ano, que dar passos significativos para transformar o planeta em um lugar possível de viver, é preciso reduzir a pobreza e a fome, a falta de oportunidades, as iniquidades de gênero, raça, religião, sexo, idade, todas, enfim, fruto de uma estrutura social arcaica e cheia de preconceitos.

Umberto Eco, em um de seus últimos livros, “Pape Satàn Aleppe”, nos diz que o ‘conceito de comunidade entrou em crise e, com isso emergiu um individualismo desenfreado, onde ninguém é companheiro de viagem de ninguém, e sim seu antagonista’. Fazendo uma cognição entre a realidade e arte, “Não olhe para cima”, como tenta nos ensinar o filme recém-lançado por Hollywood, olhe para dentro de si mesmo, olhe em volta e veja o que você pode fazer por você, por quem está ao seu lado, pela sua rua, seu bairro, sua cidade, seu país. Pelo planeta. Os humanos precisam entender essa mensagem: não somos nada como indivíduos, somos tudo em comunidade.

E é em nome desse sentimento que faço o desejo para 2022: que encontremos a empatia, que possamos desenvolver essa reação tão purificadora que é a solidariedade. Bom ano para todos nós, com saúde e sabedoria!

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Expectativas e perspectivas para 2022

Além da pandemia de Covid-19, vivemos o desgoverno econômico, a níveis nunca vistos desde a criação do Plano Real: inflação crescente, desemprego e a fome

Publicado em 24 de dezembro de 2021 às 10:20

A economia vive de expectativa, não é uma ciência exata, ela depende de como irá se comportar uma série de outros fatores, inclusive políticos, e esse é um dos motivos – se não o principal – do nosso país apresentar expectativas ainda mais duras e tristes para 2022. Além da pandemia de Covid-19, vivemos o desgoverno econômico, a níveis nunca vistos desde a criação do Plano Real: inflação crescente, desemprego e a fome que chega a cerca de 20 milhões de brasileiros e brasileiras. É um quadro desolador.

Todavia, meu lado cristão me faz manter perspectivas de dias melhores. Acredito que podemos, todos nós, mudar este cenário, colocar de novo o Brasil nos rumos do equilíbrio fiscal, do crescimento econômico e do desenvolvimento social. Tenho certeza de que é possível fazer muito por este país e seus cidadãos, a partir de medidas acertadas na economia e, claro, na política, pois elas caminham lado a lado. Não se precisaria furar o teto de gastos para pagar o auxílio emergencial, bastaria acabar com essa imoralidade de orçamento secreto e tantos outros projetos escusos. Para levar comida à mesa das pessoas é preciso emancipá-las, apostar de verdade na educação de qualidade, na capacitação, é preciso gerar oportunidades e não criar clientela política.

Meu desejo para 2022 é de um Brasil forte, respeitado e que nos dê orgulho. Teremos a chance de mudar nossa própria história com as eleições do próximo ano e que exerçamos nosso direito de votar com sabedoria, com coragem e, acima de tudo, com muita fé. Chega da política do ódio, do nós contra eles, do fanatismo. É tempo de união e sobriedade em torno de um novo projeto de país, onde haja mais respeito, mais amor e irmandade entre as pessoas e onde o presidente nos lidere para a prosperidade que, como defendo ao longo da minha vida pública, passa pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Aproveitemos, enfim, este momento de compaixão, fraternidade e, sobretudo, do renovar de esperanças que o Ano Novo nos traz, para fazermos o melhor pelo nosso país. Peço que Deus ilumine a mente dos governantes, que proteja efetivamente o nosso povo tão sofrido e que consigamos encontrar um caminho que nos leve do momento atual, de desespero para tanta gente, ao tempo em que as pessoas terão emprego, comida na mesa, trabalho, segurança e muita paz. É o que eu desejo de coração.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Natal de reflexão e solidariedade

Mais da metade dos brasileiros e brasileiras passa por momentos de incerteza, de não saber o que terá à mesa no dia de hoje e, muito menos, no dia de amanhã

Estamos chegando na semana do Natal e com ela vem também a expectativa de reunir a família em volta de uma generosa ceia. Infelizmente, essa não será a realidade de uma grande parcela da população que vive na mais profunda pobreza e insegurança alimentar. Mais da metade dos brasileiros e brasileiras passa por momentos de incerteza, de não saber o que terá à mesa no dia de hoje e, muito menos, no dia de amanhã.

Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, realizado no final de 2020, apenas 44,8% dos lares tinham seus moradores e suas moradoras em situação de segurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018. É óbvio que a pandemia tem muito a ver com isso, mas houve desacertos na economia, com aumento da inflação que atingiu drasticamente os gêneros de primeira necessidade.

Além disso, o Imazon, que analisa o Índice de Progresso Social (IPS), publicou estudos recentes que mostram que o desmatamento, as queimadas, exploração ilegal de madeira e ouro na Amazônia também condenam sua população à pobreza e à fome. Digo isso e repito, há mais de 40 anos. Os municípios que mais desmatam apresentam as piores condições de vida da população. Mais do que nunca se torna necessário o grito em defesa da Amazônia. Salvemos a Amazônia, nosso povo da miséria, nossa floresta da destruição e o planeta de se tornar inabitável.

Quero aproveitar esse período que antecede o Natal para propor uma profunda reflexão sobre a fome e a miséria, para que busquemos as respostas para enfrentarmos esse quadro. Do ponto de vista de cidadãos comuns, nos resta a solidariedade, doar o que não nos fará falta, mas que será de grande ajuda para milhares de famílias que não têm o mínimo necessário para sobreviver. Doar é exercer cidadania no grau mil, te faz bem como pessoa e faz bem às demais pessoas. Pense nisso e procure a instituição mais próxima, pessoas próximas, desempregadas, subempregadas ou sem nenhuma perspectiva de renda e dê sua contribuição.

É claro que essa não é a solução definitiva porque isso depende de políticas públicas eficientes, da retomada da economia, do fim da inflação, do resgate do crescimento econômico e social do nosso país. Mas podemos fazer a nossa parte. Se cada um juntar um grãozinho, teremos uma montanha de bondade para distribuir. Espero, do fundo do meu coração, que este Natal seja uma purificação para os nossos corações, nossas almas, e que aprendamos as lições que o mundo nos dá diariamente. É hora de cuidarmos do planeta, das nossas florestas e uns dos outros. Feliz Natal a todos!

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.