Bruno e Dom: legado e consequências internacionais

A violência na Amazônia explodiu, de forma exponencial

Há muito tempo venho advertindo que a Amazônia precisa de boa governança, sob o risco de o Brasil ter sua soberania sobre a área questionada internacionalmente.

Os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips – a forma bárbara e hedionda em que essas mortes ocorreram, a certeza que esses crimes estão diretamente ligados às ações criminosas que ocorrem no Vale do Javari, como narcotráfico, garimpo e contrabando de produtos dos rios e da floresta e que isso ocorre em total descontrole e impunidade – colocam a governança brasileira em xeque, mais uma vez, e agora de forma indefensável.

Não é um fato isolado. São ações contínuas que já culminaram em outras mortes, outras denúncias, invasões de garimpeiros em terras indígenas, sendo denunciados quase que diariamente, violência, estupros e o roubo de riquezas que poderiam estar servindo para melhorar a vida das pessoas que vivem na Amazônia, se houvesse políticas sérias, fiscalização, controle, combate ao crime e punição.

Controle, combate e fiscalização? Como, se os órgãos responsáveis por isso vêm sofrendo desmanches inconsequentes ao longo dos últimos anos, perdendo recursos financeiros e humanos? Todos os órgãos diretamente ligados às questões ambientais, indígenas e de pesquisa e desenvolvimento tecnológico que já não atuavam de maneira eficaz em sua totalidade, mas funcionavam com mais precisão, estão à míngua e sem pessoal suficiente.

A violência na Amazônia explodiu, de forma exponencial. Na semana passada, a Pastoral da Terra divulgou um caderno revelando dados escabrosos, entre eles o aumento de 1.100% nas mortes em consequência de conflitos no campo, com 109 mortes registradas em 2021, 101 delas ocorridas em território Yanomami, em Roraima, em conflito com garimpeiros.

São estatísticas que escondem histórias, a maioria não investigadas. Com o caso Bruno e Dom o Brasil não abriu uma porta para a repreensão internacional, abriu uma porteira, ainda não dimensionada e que poderá trazer gravíssimas consequências para o país como um todo.

Sobre o autor

É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

‘Uma Só Terra’

O Dia Mundial do Meio Ambiente, uma chamada à humanidade para que possamos cuidar melhor do nosso planeta

Domingo, 5 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente, uma chamada à humanidade para que possamos cuidar melhor do nosso planeta, se pretendemos continuar por aqui e usufruindo dos seus recursos naturais para a nossa qualidade de vida. Usufruir sem minguar esses recursos. Desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, há 50 anos, em Estocolmo, na Suécia, muito já se avançou na discussão e nas tomadas de decisões para minimizar as agressões ao meio ambiente, mas não o suficiente.

Este ano, o evento traz novamente o tema “Uma Só Terra”, que para mim se revela como um grandioso conflito: podemos, de fato, ser uma só Terra? Temos enormes diversidades culturais, econômicas e sociais em todo o mundo, que nos fazem questionar se seria possível pensar o meio ambiente e a sustentabilidade de uma forma global e justa para todos os povos. Minha conclusão é que, respeitando as diferenças, as vantagens e desvantagens de cada povo em cada rincão desse planeta, aí sim, poderemos ter uma só Terra.

Cito como exemplo o Brasil e, especialmente, a Amazônia e o meu estado, o Amazonas. Enfrentamos problemas gravíssimos com o aumento do desmatamento e das queimadas, ano a ano, e isso em função do avanço do agronegócio, especialmente da criação de gado e do cultivo de soja, milho e algodão, principalmente naqueles municípios que chamamos de nova fronteira agrícola; mas também pelo aumento da grilagem de terras e do recrudescimento do garimpo ilegal, levando atividades insanas que contaminam os rios e as pessoas.

A Amazônia é uma região bastante emblemática para o mundo e guarda muitas contradições. Temos, de um lado, a enorme riqueza da floresta com o seu inestimável patrimônio biológico e, de outro lado, uma população imersa na miséria, com mais de 50% das pessoas vivendo entre a pobreza e a pobreza extrema. Inimaginável que um lugar tão rico seja a residência de uma população tão pobre. E isso enquanto o mundo inteiro atua com discursos de sustentabilidade, de uso sustentável dos recursos, em conceitos de cidades sustentáveis.

É preciso sair do discurso e partir para a prática. A Amazônia e o Amazonas precisam de investimentos em infraestrutura, em ciência, em tecnologia, educação, saúde, no turismo… colocando par a par a ciência e o conhecimento tradicional dos povos indígenas, ou seja, o doutor das academias e o doutor das matas atuando em conjunto para encontrar esse ponto de equilíbrio, transformando os produtos da floresta em riqueza e em avanço econômico e social para os amazonenses e para todos os brasileiros.

* É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

O que está faltando para encararmos o desenvolvimento sustentável?

Temos a oportunidade de dar um salto de qualidade para a vida dos amazonenses

Nos últimos meses tenho feito uma viagem de volta ao interior do meu Estado, coisa que não fiz nos oito anos em que estive como prefeito de Manaus, não por falta de vontade, mas por falta de oportunidade. Nessas passagens que tenho feito ao interior, tenho me deparado com a imensa alegria, receptividade e calor da população, sempre pronta a abraçar e a emprestar seu carinho. Foi assim em todos os municípios em que estive.

Por outro lado, também vi muita falta de perspectiva. Por onde andei ouvi sempre as mesmas queixas: falta emprego, faltam atividades que proporcionem renda e ocupação para as milhares de famílias e, por muitas vezes, vi a fome que assola nossos municípios. Não é uma situação exclusiva do Amazonas. Dados oficiais apontam que 25% da população brasileira vive em situação de pobreza ou extrema pobreza, o que representa algo em torno de 52,7 milhões de pessoas.

Mas, no Amazonas, tudo é mais grave, dada a complexidade da região, o distanciamento geográfico dos grandes centros e falta de políticas integradas e de uso sustentável de seus recursos. Aqui, o risco social e a pobreza extrema atingem mais de 50% da população, ou seja, mais de 2 milhões de pessoas vivem com renda entre R$ 145 e R$ 453. E olha que estamos na região com o maior percentual de floresta nativa preservada, apesar dos ataques a que é submetida, sistematicamente.

Meu questionamento é: o que está faltando para nos dedicarmos de vez ao desenvolvimento sustentável como solução para o Amazonas?

É imprescindível trabalharmos para restabelecer as bases de uma economia forte, tanto para o Brasil como para o Amazonas. Precisamos ter foco nas ações de infraestrutura de curto, médio e longo prazos e nos voltarmos para o desenvolvimento sustentável e o investimento em novas tecnologias.

Insisto que o aproveitamento dos recursos naturais da floresta amazônica, de forma sustentável, é a saída para o Amazonas e, especialmente, para o interior do Estado. Precisamos gerar oportunidades de negócios e empregos neste que é o setor mais promissor da economia contemporânea e do futuro, a bioeconomia, com movimento de R$ 2 trilhões de euros no mercado mundial.

São amplas as oportunidades de negócios, garantindo desenvolvimento regional com redução de desigualdades de renda e de oportunidades no interior do Amazonas. É urgente, urgentíssimo que o Centro de Biotecnologia da Amazônia assuma protagonismo como agente promotor de P&D em inovação e sustentabilidade; a expansão da Embrapa para o desenvolvimento de pesquisas de bioeconomia e biotecnologia; criar “cluster” de pesquisa, tecnologia e desenvolvimento sustentável envolvendo todos os órgãos científicos, de pesquisa de campo e universidades afins; fortalecer as cadeias produtivas que usam os recursos naturais sem degradar o meio ambiente.

Temos a oportunidade de dar um salto de qualidade para a vida dos amazonenses, não podemos desperdiçá-la e entregar o ouro nas mãos de exploradores e depredadores ou até mesmo, de países que podem usar a nossa falta de habilidade na gestão inteligente e sustentável de nossos recursos e no cumprimento de acordos para o equilíbrio do planeta, para adornar-se da nossa floresta amazônica.

* É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Escravidão nunca mais

Infelizmente, o trabalho escravo não acabou com a Lei Áurea e continua atualmente, quando convivemos com a chamada escravidão contemporânea ou o trabalho análogo à escravidão

Comemoramos, neste mês de maio, a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, que escreveu seu nome na história ao concluir um ciclo de leis abolicionistas no Brasil e, acabando, em definitivo, com a legalidade e a legitimidade de um dos atos mais atrozes da humanidade, o de escravizar outro ser humano e tratá-lo como mercadoria em praças públicas e em mercados. Eram negros, arrebatados da mãe África, traficados e que aqui desempenhavam funções domésticas, agropastoris e de “animais” de carga e de tração, submetidos a terríveis castigos e torturas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000), o Brasil foi o país, no continente americano, que mais importou escravos africanos entre os séculos XVI e XIX, cerca de 4 milhões pessoas (homens, mulheres e crianças), mais de um terço de todo o comércio negreiro do período no mundo.

Infelizmente, o trabalho escravo não acabou com a Lei Áurea e continua atualmente, quando convivemos com a chamada escravidão contemporânea ou o trabalho análogo à escravidão. São milhares de pessoas submetidas a trabalhar sem salário ou qualquer direito trabalhista, cumprindo jornadas de trabalho excessivas, privados de sua liberdade. Vivem, em geral, em condições subumanas, sem acesso à saúde, alimentação digna, condições de habitação e higiene.

Os números são assombrosos. Entre 1995 e 2021, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel libertou mais de 57 mil trabalhadores em condições análogas à escravidão. Só no ano passado foram resgatadas quase duas mil pessoas e, de janeiro a abril deste ano, mais de 500 pessoas. Em 2018, segundo estimativas da Walk Free Foundation, 369 mil pessoas foram submetidas à escravidão no Brasil. No mesmo ano, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 40,3 milhões de pessoas foram submetidas à escravidão no mundo.

Uma análise superficial, e não por isso menos relevante, nos dá indícios de outro problema muito grave no Brasil. O trabalho escravo contemporâneo está intrinsecamente ligado às atividades rurais e aos latifúndios. Basta ver que, das 1,937 pessoas resgatadas em 2021, 89% estavam no trabalho rural, no cultivo de café, de alho, produção de carvão vegetal e cultivo de cana-de-açúcar.

Desde 1995, quando o Brasil reconheceu o trabalho análogo à escravidão junto à Organização Mundial do Trabalho e à Organização das Nações Unidas, e criou o Grupo Móvel, muito se avançou, principalmente no aspecto da lei. Mas, indubitavelmente, isso não é suficiente. Precisamos de leis mais duras e sanções mais definitivas em relação aos que praticam o trabalho escravo. É preciso também avançar em relação à reforma agrária no Brasil, reduzindo o impacto dos latifúndios e dando condições aos trabalhadores rurais de ter sua porção de terra para produzir.

Na trilha desse assunto tão emblemático para o Brasil histórico e atual, recomendo – para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o tema – assistir ao filme “Pureza”, com a nossa queridíssima conterrânea amazônica, a paraense Dira Paes, que estreou nos cinemas esta semana e conta a história da cruzada de uma mãe para libertar o filho do trabalho escravo contemporâneo, baseado em fatos reais. #Ficaadica.

* É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Está na hora de pensarmos uma nova economia

O Brasil e o mundo precisam pensar em um novo modelo de economia que esteja mais centrada no crescimento

O Brasil e o mundo precisam pensar em um novo modelo de economia que esteja mais centrada no crescimento, com inflação baixa, sem comprometer de forma desnecessária os recursos naturais do planeta e onde não seja tão relevante que o Produto Interno Bruto (PIB) seja tão elevado. O mais importante deve ser o que fazer com o PIB pelo desenvolvimento social, pelo crescimento do país e pelo bem das pessoas.

É possível crescer em torno de 4% ao ano, como eu almejo para o Brasil, por anos e anos seguidos, com inflação baixa, em torno de 2% anuais. Nós temos que chegar a isso. Não adianta ficar perseguindo um crescimento de 7% ao ano e vir com uma inflação alta, pesando em forma de desemprego e fome.

Hoje estamos vivendo esse pesadelo. Há oito meses a inflação no Brasil bate a casa dos dois dígitos e, segundo os especialistas, só baixará desse patamar em setembro. Ou seja, teremos um ano todo com inflação de dois dígitos, já acumulados, até agora, acima de 12%. E isso tem afetado sobremaneira a população brasileira porque na ponta dessa corda, que puxa a inflação para cima, estão os alimentos e o transporte, pressionados pelos constantes aumentos dos combustíveis.

É preciso eficiência nos gastos e na aplicação dos recursos. É preciso não se permitir a farra com o dinheiro público. É preciso consolidar a consciência de que não há espaço para tolerar a desordem fiscal, a inflação alta e, ao mesmo tempo, imaginar que crescer a produção resolverá todos os problemas. Não resolve, se não vir acompanhado de racionalidade na gestão e nos gastos dos recursos. O que resolve é aproveitar o crescimento de maneira muito útil sob a forma de bem-estar para o povo.

Precisamos pensar nessa nova economia, em aproveitar nossos recursos naturais, nossa biodiversidade, a nosso favor e não entregando para exploração de mãos inescrupulosas e que não pensam no planeta e nem nas pessoas, como ocorre agora em parte significativa da Amazônia com o garimpo, por exemplo.

O Brasil tem jeito, tem riquezas, tem gente trabalhadora. Faltam cabeças pensantes, com olhar no futuro, para reequilibrar nossa economia e nossa política ambiental em favor da prosperidade e da sobrevivência da humanidade.

* É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

A luta continua

O STF embora a luta esteja longe de chegar ao fim, concedeu medida cautelar suspendendo os efeitos nocivos dos decretos de redução do IPI para a Zona Franca de Manaus

Tivemos importante vitória para o Amazonas e para o futuro dos amazonenses. O Supremo Tribunal Federal, embora a luta esteja longe de chegar ao fim, concedeu medida cautelar suspendendo os efeitos nocivos dos decretos de redução do IPI – o Imposto sobre Produtos Industrializados – para a Zona Franca de Manaus. Sábia decisão, porque respeita os benefícios constitucionais da Zona Franca e leva em consideração as mazelas econômicas e sociais que as medidas acarretariam ao nosso Estado, afetando os 500 mil empregos gerados pelo Polo Industrial de Manaus, justamente num momento em que a economia brasileira não vai bem.

Mesmo sem mandato, fui o primeiro a entrar com uma ação judicial contra os decretos federais. Ao todo, foram quatro, duas no STF e duas na Justiça Federal. Por isso, parabenizo o Solidariedade, do deputado Bosco Saraiva, que legitimou essa luta em favor da Zona Franca de Manaus e da comida na mesa da nossa gente.

Sempre defendi, com garra, o modelo econômico que alimenta o nosso povo e sustenta a floresta em pé. O Brasil precisa abraçar essa causa, defender a Zona Franca de Manaus é defender a Amazônia, porque é ela a responsável por impedir o avanço predatório sobre grande parte da floresta que pertence ao território do Amazonas.

Vencemos a primeira batalha, mas a luta continua. É preciso mais, oferecendo legítima segurança jurídica às empresas do nosso polo industrial, modernizando e diversificando nossa matriz econômica. É preciso investir para valer na biotecnologia, tornar o Centro de Biotecnologia da Amazônia uma realidade, fomentar a inovação e, sobretudo, a economia verde. Essa é nossa verdadeira vocação, a floresta é nossa maior riqueza e com um potencial trilionário, capaz de mudar o futuro dos amazonenses e de todos os brasileiros.

É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Futuro sombrio aos amazonenses diante das ameaças à Zona Franca

As ameaças que vinham sendo feitas há meses se concretizaram, com duas canetadas

Neste domingo, primeiro de maio, celebramos o Dia do Trabalhador. Celebramos? Não sei até que ponto podemos dizer que sim, pois o Brasil tem, aproximadamente, 14 milhões de desempregados, ou seja, pessoas que perderam seus postos de trabalho nos últimos anos. O nível de pobreza e de extrema pobreza também aumenta em escala desesperadora, atingindo um quarto da população brasileira. E a inflação só aumenta, reduzindo os recursos para levar comida à mesa do brasileiro.

No Amazonas, a situação é ainda mais grave. Às vésperas do Dia do Trabalhador, nos deparamos com mais dois decretos do governo federal que podem colocar uma pá de cal nas esperanças de que o futuro imediato seja melhor. As ameaças que vinham sendo feitas há meses se concretizaram, com duas canetadas.

A redução do IPI, agora em 35%, para os produtos que são fabricados na Zona Franca de Manaus extrapola qualquer limite de resistência que nossas empresas possam ter para garantir a competitividade no mercado nacional. Se já estava ruim com a redução de 25%, agora é um tiro mortal em, aproximadamente, 500 mil empregos diretos, indiretos e induzidos que o nosso Polo Industrial proporciona.

Ainda mais estarrecedor é ter zerado o IPI para a indústria de concentrados. O segmento que fatura por ano, aproximadamente, R$ 9,5 bilhões e gera 7,3 mil empregos. Grandes empresas como a Coca-Cola e Ambev podem arrumar suas malas e deixar a ZFM, a exemplo do que já ocorreu com a Pepsi, quando houve redução do IPI em anos anteriores.

O impacto no interior, que já é tão desprotegido e sem perspectiva de emprego é gigantesco, porque, além das perdas diretas, essa fatura também vai ser paga por estados e municípios, com redução significativa nos repasses constitucionais – se o governo está abrindo mão de imposto, obviamente a fatia de arrecadação a ser transferida para os entes federativos também será menor.

O Amazonas vai de mal a pior e a nossa Zona Franca está à beira do abismo. Essas medidas equivocadas não ajudam a economia do país, como insistem em dizer. Ao contrário, aumenta ainda mais a inflação e, no meu Estado, vai aumentar o desemprego, a fome e, não duvidem, vai refletir também sobre a floresta.

Precisamos de fôlego e de muita disposição para lutar. Precisamos, definitivamente, de esperança, porque o que se vislumbra diante dos últimos movimentos nos deixa mais que preocupados com o futuro do Amazonas.

* É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Denúncias de violência e desumanidade contra indígenas

O mês que marca a Luta Indígena pela Sobrevivência foi um período de muitas denúncias de barbáries praticadas contra esses povos

Neste mês de abril, tivemos a oportunidade de nos abraçar com as causas indígenas, seus direitos violados e suas lutas constantes para atingir um lugar na sociedade onde sejam vistos como são: povos originários, com direito a ocupar um ecossistema, com cadeias produtivas de relevância e, acima de tudo, com reconhecimento de sua importância histórica e social.

O mês que marca a Luta Indígena pela Sobrevivência foi um período de muitas denúncias de barbáries praticadas contra esses povos. A mais recente delas é de uma atrocidade inimaginável.

Garimpeiros invadiram a comunidade Jarinal, na Terra Indígena Vale do Javari, no Oeste do Amazonas, e forçaram os indígenas a beberem água com etanol e, para culminar a selvageria, abusaram sexualmente de mulheres da aldeia. O fato já foi denunciado, mas até onde se sabe, a Funai não se manifestou.

Não é de hoje que garimpeiros estão cooptando jovens Yanomamis com cachaça e armas, causando guerra entre seu próprio povo e a destruição de um dos principais povos indígenas do país. É o garimpo procurando a riqueza ilícita às custas de almas Yanomamis, dizimando os guardiões da floresta com falsas promessas de enriquecimento. O garimpo destrói o meio ambiente, massacra povos indígenas e ninguém nada faz.

Até quando vamos permitir isso? Até quando vamos continuar cavando a sepultura dos povos indígenas, com ações degradantes, sem que o Poder Público faça a sua parte? Até quando teremos tramitando, em todas as esferas de poder, ações e projetos de lei contra os direitos dos povos indígenas?

Abril está chegando ao fim, mas as questões dos povos indígenas permanecerão, e não podemos ficar de braços cruzados.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos, deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Meu Juliano voa

Tenho muito orgulho e muito amor por meus quatro filhos

Tenho muito orgulho e muito amor por meus quatro filhos. Eu os homenageio sempre, mas hoje será dedicado especificamente ao meu Juliano, que se dedicou desde bem jovem aos estudos. Alguém que fincou bases muito sólidas para alçar os voos que já estão rendendo frutos.

Fez vestibular para o Instituto Militar de Engenharia (IME) como civil, que possui menos vagas e é, portanto, mais concorrido, mais duro de alcançar aprovação. Lá, ele ganhou muito mais disciplina do que já tinha e foi em matemática e física, segundo os seus mestres, um dos três melhores alunos que passaram pela instituição nos últimos dez anos, contando da época em que ele se graduou para trás.

Juliano sempre teve aspiração de conhecer o Japão e lá morar. E cuidou de aprender literatura, culturas e a língua nipônica, que hoje ele fala como um japonês culto. Ele e o Japão são um caso de amor. Chegou o momento em que ele se submeteu ao processo seletivo para o mestrado, em Engenharia Eletrônica, na maior e melhor universidade daquele país, a Tôdai. Passou em primeiro lugar. Durante o curso, foi o primeiro aluno de sua turma. Agora está cursando seu doutoramento e já ganhou um trabalho remunerado no laboratório de pesquisas da própria Tôdai.

Juliano evita falar dessas coisas. É dotado de uma modéstia própria dos sábios. Se ele estivesse lendo o que estou escrevendo, certamente, pediria que eu moderasse em certos pontos. O fato é que ele foi e continua sendo como o descrevi e descrevo. Desde o mestrado, ele faz palestras pelo Japão inteiro e, agora, está ultrapassando os limites dessa grande nação. Está indo palestrar em Cingapura.

É uma coisa ótima ver meu filho voar, com honra, honestidade, muito foco e dedicação ao que deseja realizar. Eu o vejo como uma figura do mundo, uma pessoa que dará grandes contribuições na sua área de atuação. É alguém que já está compartilhando seus conhecimentos robustos com muita gente.

Meu Juliano é um orgulho para os seus irmãos, para a sua mãe, para mim. Um orgulho para todos nós. Minha esposa, Beta, tem uma admiração muito grande por ele e o dá como exemplo. Afinal, trata-se de uma figura ímpar. Faço este depoimento com muita emoção.

Obrigado meu Juliano, meu Juba, querido, respeitado e amado.

* É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos, deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Terra Livre: Essa luta é de todos nós

Na Terra Brasilis todo dia era dia de índio e tudo que por aqui existia lhe pertencia

Publicado em 10 de abril de 2022 às 06:00

Na Terra Brasilis todo dia era dia de índio e tudo que por aqui existia lhe pertencia. E eles eram tantos e de tantas etnias, que foram classificados pelas línguas que falavam. Segundo dados oficiais, eram mais de 3 milhões de indígenas distribuídos em mais de mil povos diferentes. Grande parte vivia no litoral brasileiro e, aproximadamente, 1 milhão no interior do país.

Hoje, no Brasil colonizado e colonizador – de que outra maneira poderíamos definir a imposição da presença do “branco” na cultura, território e no extermínio dos povos indígenas? – são cerca de 897 mil indígenas, 305 etnias e 274 línguas. A maioria deles está concentrada nas regiões Norte (Amazonas, principalmente) e Nordeste (Bahia). Mas estão presentes em todas as outras regiões do país.

E é contra essa parcela tão importante da nossa população, os nossos povos originários, aqueles que marcam a nossa descendência e nossa história, com tudo o que vem nessa esteira de conhecimentos, que estão voltados todos os canhões. Tramitam em todas as esferas do poder, projetos, de curto e longo prazos, que interferem diretamente na vida dos povos originários, que alteram as regras para a demarcação das terras indígenas, na exploração de minérios nessas terras e outras atrocidades.

Desde o último dia 4, o movimento Acampamento Terra Livre 2022 está em Brasília, elevando sua voz e consolidando sua luta para derrubar essas intenções e ações. Eles ocupam Brasília, a capital do país, para lembrar que aqui ainda é Terra Brasilis. E nós estamos aqui, de mãos dadas com os nossos povos originários, para dizer que essa luta é de todos nós.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.