Thiago de Mello – Verdadeira expressão de amazoneidade

Thiago foi adido cultural em Santiago (Chile) e não teve qualquer dúvida em acolher os exilados brasileiros

Thiago de Mello foi um grande amigo, companheiro da Academia Amazonense de Letras, companheiro de vida. Era poeta maior que sua poesia, uma glória da literatura latino-americana. Filho dos Andirás, em Barreirinha, onde construiu uma belíssima casa, projetada pelo também imortal arquiteto brasileiro Lúcio Costa. Tinha um acervo enorme de fotos, quadros, bilhetes – entre eles um do Pablo Neruda – obras autênticas que foram doadas para o Museu da Cidade, durante a minha gestão como prefeito de Manaus, e que se transformaram em uma preciosíssima exposição.

Thiago foi adido cultural em Santiago (Chile) e não teve qualquer dúvida em acolher os exilados brasileiros, como José Serra e Paulo de Tarso, por exemplo, dando também grande apoio ao presidente Fernando Henrique e a tantos outros. Foi um nome de grande importância para esse momento da história brasileira, que estava sujeita a um regime autoritário.

Thiago era tudo isso e muito mais. Uma verdadeira expressão de ‘amazoneidade’. Simples, com suas roupas brancas e sandálias, a cabeça branquinha dava a identidade de quem viveu muito e de forma grandiosa. Estava à frente de seu tempo e, ainda assim, carregava a tradição de suas terras amazônicas, com raízes fortíssimas na região.

Talvez ninguém tenha falado o ‘caboquês’ tão bem quanto o Thiago de Mello. Porque falava da alma, do coração, de seu imenso amor e sentido de pertencimento por essas terras. “Filho da floresta, água e madeira vão na luz dos meus olhos, e explicam este jeito meu de amar as estrelas e de carregar nos ombros a esperança”, como ele próprio se definiu.

Você partiu, meu amigo. Mas, não seu coração, sua alma, sua mente brilhante, essas nunca se irão. Você será eterno em nossos corações. Estamos de luto, mas sua inspiração nos faz seguir em luta.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Fé, empatia e respeito à ciência

Aproximadamente, 30% da população não recebeu nenhuma das quatro doses já disponibilizadas para uso

É surpreendente o número de pessoas não vacinadas no Brasil contra o novo coronavírus. Aproximadamente, 30% da população não recebeu nenhuma das quatro doses já disponibilizadas para uso. É mais surpreendente ainda quando estamos cientes de que 80% das mais de 300 mil mortes por Covid-19, ocorridas de março a novembro de 2021, foram de pessoas não vacinadas e mais de 81% das pessoas internadas nesse período também não estavam vacinadas. Então, o espanto: por que? Por que as pessoas, mesmo cientes de todos os riscos que estão correndo e que estão levando aos seus entes queridos, se recusam a fazer o ciclo de imunização?

A pandemia de Covid-19 nos tomou a todos de surpresa, não sabíamos muito bem como lidar com ela, mas isso foi há dois anos. Os progressos que a ciência trouxe ao combate, com o desenvolvimento de vacinas, está ajudando na normalização da vida no planeta. Mas, já podemos afrouxar as medidas? Já podemos caminhar tranquilamente pelas ruas, sem máscara, sem uso das medidas sanitárias recomendadas? Absolutamente, não.

Recentemente, o mundo registrou dois recordes sucessivos de Covid-19, com 2,59 milhões de casos em apenas 24 horas (05.01) e 2,4 milhões (04.01). Esses números estão diretamente ligados a variante Ômicron, transmitida com mais facilidade que as variantes anteriores. Ou seja, fica cada vez mais claro que a Covid-19 vai permanecer ainda por muito tempo em nossas vidas e que devemos nos convencer de adotar as medidas para nos proteger e aqueles que amamos. Pais, mães, avós, filhos, vizinhos, amigos… tantos que se foram. Não pode ser em vão e nem precisamos mais ver famílias se esfacelando.

Vacina, vacina e vacina. Esse é o caminho. Os governos precisam adotar novas estratégias de convencimento da população não vacinada, fazendo buscas ativas. E as pessoas devem ter consciência de que a máscara é o novo acessório de seu vestuário, por um longo tempo. É preciso também vacinar as crianças, acabar com discursos e práticas estúpidas que deixam milhões de brasileiros indefesos. Vidas importam!

Para virar essa página, vencer o medo, é preciso – acima de tudo – fé em Deus, com mais empatia, cuidando de si e dos seus semelhantes, mais respeito à ciência, à vida e aos verdadeiros valores que fazem com ela valha a pena. Juntos, cada um fazendo a sua parte, podemos vencer o novo coronavírus, controlar sua evolução e minimizar seus efeitos. É gente cuidando de gente.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Vamos falar de 2022?

O ano que se inicia é, realmente, de grandes mudanças

Viramos o ano, mas ainda não viramos a página. Vamos iniciar 2022 ainda sob o espectro da pandemia, do desemprego, da fome e dos ataques ao meio ambiente, e na perspectiva, nada agradável, de uma estagflação – recessão econômica + inflação alta – no Brasil, acentuando todos os sinais já emitidos em 2020 e 2021.

Com tudo isso na cabeça poderíamos receber 2022 com rancor e um certo fastio. Mas, o que separa os homens dos demais seres vivos do planeta terra é a sua capacidade de rever e prever. Aprender com suas próprias experiências e se renovar. O ano que se inicia é, realmente, de grandes mudanças. Começando pelas mudanças de governantes – ou não – com as eleições que se aproximam , mas algo de novo tem que haver, nem que seja a vontade do brasileiro de realmente mudar o seu destino e caminhar para esse lugar do futuro que se chama expectativa, a boa expectativa, esperar e ver o melhor sem perder o foco.

Temos, neste ano, que dar passos significativos para transformar o planeta em um lugar possível de viver, é preciso reduzir a pobreza e a fome, a falta de oportunidades, as iniquidades de gênero, raça, religião, sexo, idade, todas, enfim, fruto de uma estrutura social arcaica e cheia de preconceitos.

Umberto Eco, em um de seus últimos livros, “Pape Satàn Aleppe”, nos diz que o ‘conceito de comunidade entrou em crise e, com isso emergiu um individualismo desenfreado, onde ninguém é companheiro de viagem de ninguém, e sim seu antagonista’. Fazendo uma cognição entre a realidade e arte, “Não olhe para cima”, como tenta nos ensinar o filme recém-lançado por Hollywood, olhe para dentro de si mesmo, olhe em volta e veja o que você pode fazer por você, por quem está ao seu lado, pela sua rua, seu bairro, sua cidade, seu país. Pelo planeta. Os humanos precisam entender essa mensagem: não somos nada como indivíduos, somos tudo em comunidade.

E é em nome desse sentimento que faço o desejo para 2022: que encontremos a empatia, que possamos desenvolver essa reação tão purificadora que é a solidariedade. Bom ano para todos nós, com saúde e sabedoria!

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Expectativas e perspectivas para 2022

Além da pandemia de Covid-19, vivemos o desgoverno econômico, a níveis nunca vistos desde a criação do Plano Real: inflação crescente, desemprego e a fome

Publicado em 24 de dezembro de 2021 às 10:20

A economia vive de expectativa, não é uma ciência exata, ela depende de como irá se comportar uma série de outros fatores, inclusive políticos, e esse é um dos motivos – se não o principal – do nosso país apresentar expectativas ainda mais duras e tristes para 2022. Além da pandemia de Covid-19, vivemos o desgoverno econômico, a níveis nunca vistos desde a criação do Plano Real: inflação crescente, desemprego e a fome que chega a cerca de 20 milhões de brasileiros e brasileiras. É um quadro desolador.

Todavia, meu lado cristão me faz manter perspectivas de dias melhores. Acredito que podemos, todos nós, mudar este cenário, colocar de novo o Brasil nos rumos do equilíbrio fiscal, do crescimento econômico e do desenvolvimento social. Tenho certeza de que é possível fazer muito por este país e seus cidadãos, a partir de medidas acertadas na economia e, claro, na política, pois elas caminham lado a lado. Não se precisaria furar o teto de gastos para pagar o auxílio emergencial, bastaria acabar com essa imoralidade de orçamento secreto e tantos outros projetos escusos. Para levar comida à mesa das pessoas é preciso emancipá-las, apostar de verdade na educação de qualidade, na capacitação, é preciso gerar oportunidades e não criar clientela política.

Meu desejo para 2022 é de um Brasil forte, respeitado e que nos dê orgulho. Teremos a chance de mudar nossa própria história com as eleições do próximo ano e que exerçamos nosso direito de votar com sabedoria, com coragem e, acima de tudo, com muita fé. Chega da política do ódio, do nós contra eles, do fanatismo. É tempo de união e sobriedade em torno de um novo projeto de país, onde haja mais respeito, mais amor e irmandade entre as pessoas e onde o presidente nos lidere para a prosperidade que, como defendo ao longo da minha vida pública, passa pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Aproveitemos, enfim, este momento de compaixão, fraternidade e, sobretudo, do renovar de esperanças que o Ano Novo nos traz, para fazermos o melhor pelo nosso país. Peço que Deus ilumine a mente dos governantes, que proteja efetivamente o nosso povo tão sofrido e que consigamos encontrar um caminho que nos leve do momento atual, de desespero para tanta gente, ao tempo em que as pessoas terão emprego, comida na mesa, trabalho, segurança e muita paz. É o que eu desejo de coração.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Natal de reflexão e solidariedade

Mais da metade dos brasileiros e brasileiras passa por momentos de incerteza, de não saber o que terá à mesa no dia de hoje e, muito menos, no dia de amanhã

Estamos chegando na semana do Natal e com ela vem também a expectativa de reunir a família em volta de uma generosa ceia. Infelizmente, essa não será a realidade de uma grande parcela da população que vive na mais profunda pobreza e insegurança alimentar. Mais da metade dos brasileiros e brasileiras passa por momentos de incerteza, de não saber o que terá à mesa no dia de hoje e, muito menos, no dia de amanhã.

Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, realizado no final de 2020, apenas 44,8% dos lares tinham seus moradores e suas moradoras em situação de segurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018. É óbvio que a pandemia tem muito a ver com isso, mas houve desacertos na economia, com aumento da inflação que atingiu drasticamente os gêneros de primeira necessidade.

Além disso, o Imazon, que analisa o Índice de Progresso Social (IPS), publicou estudos recentes que mostram que o desmatamento, as queimadas, exploração ilegal de madeira e ouro na Amazônia também condenam sua população à pobreza e à fome. Digo isso e repito, há mais de 40 anos. Os municípios que mais desmatam apresentam as piores condições de vida da população. Mais do que nunca se torna necessário o grito em defesa da Amazônia. Salvemos a Amazônia, nosso povo da miséria, nossa floresta da destruição e o planeta de se tornar inabitável.

Quero aproveitar esse período que antecede o Natal para propor uma profunda reflexão sobre a fome e a miséria, para que busquemos as respostas para enfrentarmos esse quadro. Do ponto de vista de cidadãos comuns, nos resta a solidariedade, doar o que não nos fará falta, mas que será de grande ajuda para milhares de famílias que não têm o mínimo necessário para sobreviver. Doar é exercer cidadania no grau mil, te faz bem como pessoa e faz bem às demais pessoas. Pense nisso e procure a instituição mais próxima, pessoas próximas, desempregadas, subempregadas ou sem nenhuma perspectiva de renda e dê sua contribuição.

É claro que essa não é a solução definitiva porque isso depende de políticas públicas eficientes, da retomada da economia, do fim da inflação, do resgate do crescimento econômico e social do nosso país. Mas podemos fazer a nossa parte. Se cada um juntar um grãozinho, teremos uma montanha de bondade para distribuir. Espero, do fundo do meu coração, que este Natal seja uma purificação para os nossos corações, nossas almas, e que aprendamos as lições que o mundo nos dá diariamente. É hora de cuidarmos do planeta, das nossas florestas e uns dos outros. Feliz Natal a todos!

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

O desmonte do governo Bolsonaro

“Isso é grave e mostra que o barro dos pés do santo derreteu irreversivelmente”

Ainda faltando mais de um ano para o fim do mandato do presidente Bolsonaro, o governo passa por um desmonte sem precedente porque não se trata de uma reforma administrativa, de um rearranjo político em seus quadros, mas simplesmente da total falta de afinidade, confiança e credibilidade dos seus técnicos de alto nível nas políticas – ou a falta delas – nos diversos campos da administração. Isso é grave e mostra que o barro dos pés do santo derreteu irreversivelmente.

Houve debandada geral na equipe econômica, que desde o início do governo perdeu 21 integrantes no Ministério da Economia, no IBGE e em estatais, sendo que a última revoada foi a manifestação aberta de discordância do rumo adotado pelo governo em driblar o orçamento, furar o teto de gastos e manter o orçamento secreto. E se a discordância vem de dentro, com essa reação, só podemos confirmar todos os nossos temores e certezas de que está tudo muito errado mesmo.

Tivemos debandada também na área da educação, com o pedido de demissão coletiva dos técnicos do Inep, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão responsável pela elaboração do Enem e de avaliar o ensino básico no país. Perda lamentável, que veio coberta de acusações dos servidores, incluindo o de assédio moral praticado pelo dirigente.

Há desmonte ainda na ciência e tecnologia, dessa vez pelo corte de recursos que impede que se façam os experimentos, os testes, as pesquisas, que se invistam em equipamentos e aparelhos necessários e em material humano. Isso sem contarmos as agências de fiscalização e controle na área ambiental, indígena, entre outras.

Enfim, o governo Bolsonaro está derretendo, desmoronando por dentro. Não é normal ver isso acontecer em um país como o Brasil que estava, há décadas, entre as principais economias do mundo. Recuperar todas as instituições que são necessárias à economia e ao desenvolvimento social deve ser a principal prioridade do próximo governante, devolvendo ao país sua credibilidade e aos seus servidores o orgulho de estar praticando políticas públicas corretas e em favor da população.

Sobre o autor

É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

O Brasil precisa de expectativas

O Brasil precisa de esperança. Precisa de um novo governo que traga na bagagem o saber fazer, o saber organizar as contas, controlar a inflação.

Na última semana, os órgãos oficiais de pesquisas econômicas admitiram que o Brasil está em recessão técnica. Isso porque, nos últimos seis meses consecutivos, houve queda na produção de bens e serviços no país, ou seja, houve queda do Produto Interno Bruto (PIB) e a economia está encolhendo. Outros órgãos, como a Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, vão mais fundo na análise e afirmam que o Brasil está em recessão desde março de 2020. De qualquer forma, isso significa menos emprego, menos renda e qualidade de vida para a população e os negócios enfrentam momentos complicados.

As análises também apontam o crescimento da inflação, superando a faixa de 2 dígitos, nos últimos 12 meses. É o combustível, a energia elétrica, o gás e o aumento acelerado no preço dos alimentos que vêm agravando a alta da inflação. Minha intuição diz que superará os 12% e desses, 2% serão pagos pela classe média, 10% pelos mais pobres e zero para os mais ricos, que têm meios de enfrentar esse momento com tranquilidade, sem mexer em nada no seu patrimônio. No bolso do mais pobre, pesa o preço dos alimentos e ele não tem como fugir disso.

O governo brasileiro acena para os mais pobres com o aumento do auxílio, que a curto prazo pode trazer a sensação de que as coisas podem melhorar, mas no médio e longo prazo, vai provocar mais recessão, mais inflação, mais desemprego, além, é claro, da completa desorganização das contas públicas. Para quem vai receber o benefício será bom, em um primeiro momento, mas os R$ 400 do primeiro mês não serão os mesmos no segundo, terceiro e assim por diante, frente à inflação que avança.

Já disse antes e repito: a economia vive de expectativas. E se a expectativa é ruim, o resultado pode ser bem pior. Nesse cenário, param os investimentos, o consumo é brecado tanto pela alta dos preços quanto pela falta de dinheiro circulando; os empregos, que são insuficientes, minguam ainda mais. É o círculo de retroalimentação da economia. As expectativas para o final do ano são ruins e para 2022 são ainda piores.

O Brasil precisa de esperança. Precisa de um novo governo que traga na bagagem o saber fazer, o saber organizar as contas, controlar a inflação, executar a Lei de Responsabilidade Fiscal, reduzir despesas e aumentar capacidade de investimento, saber conciliar o bom desempenho da economia com a sensibilidade social. O Brasil precisa de esperança, boas expectativas e foco na retomada econômica.

Salvar a Amazônia, salvar o Brasil

“Sinto que está nascendo a campanha “Salve a Amazônia, riqueza de todos os brasileiros”

Acabei de percorrer o Brasil, levando a mensagem da democracia, da importância fundamental da Amazônia e do Amazonas para todos os brasileiros e destinos do planeta.

Fiz isso com muito suor e amor. E sinto que está nascendo a campanha “Salve a Amazônia, riqueza de todos os brasileiros” que, certamente, alcançará a amplitude do “Petróleo é nosso”, dos anos 50 do século XX. Nenhum brasileiro de boa vontade ficará insensível diante de chamamento tão nobre e urgente. Afinal, se a floresta, irmã siamesa dos nossos majestosos rios, minguar, obviamente as águas secarão. Virarão córregos. Sem contar a ação poluidora do garimpo que grila terras indígenas, assassina impunemente e despeja o cancerígeno mercúrio sobre águas que precisam ser puras.

As folhas das árvores garantirão os remédios para tantas doenças que assustam o mundo inteiro, garantirão uma riqueza trilionária para nossos irmãos brasileiros. E dois cientistas serão fundamentais nesse trabalho: aqueles formados nas universidades e os indígenas e populações tradicionais, que são doutores na maior e mais rica floresta da Terra.

As águas doces, potáveis e de fácil extração, são amazônicas. Daqui a algumas décadas representarão valiosíssimo produto de exportação. Desrespeitá-las e à floresta significa desdenhar do futuro das gerações que vão chegando.

Mulheres, homens, jovens de todas as idades – a juventude mora no coração e no cérebro de cada uma e de cada um – a luta precisa resultar na preservação da natureza, no fim do desemprego, da fome, do desespero, das injustiças de quaisquer procedências.

Somente assim a vida valerá a pena de ser vivida.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

As lições que o Brasil não quer aprender sobre o garimpo

Trata-se de uma verdadeira cidade flutuante, com mais de 600 balsas invadindo os rios amazônicos

Esta semana o mundo ficou estarrecido diante da catástrofe, que eu venho anunciando nos últimos anos, que está tomando conta de dois dos principais rios amazônicos, o Madeira e o Solimões, com a invasão de balsas escavadoras de minérios que chegam para explorar o ouro nos leitos dos rios, levando destruição à floresta amazônica, contaminação às águas e da biodiversidade aquática, doença e morte às pessoas e o poderio armado do crime organizado.

Essas imagens causaram grande impacto e não é para menos. Trata-se de uma verdadeira cidade flutuante, com mais de 600 balsas invadindo os rios amazônicos, ameaçando os municípios amazonenses de Borba, Nova Olinda do Norte, Novo Aripuanã e Autazes. Isso exige de todos os órgãos competentes, sociedade civil, organizações não-governamentais, todos, que atuem em defesa da nossa gente e do nosso patrimônio genético, cultural e humano.

A ameaça do garimpo ilegal não é nenhuma novidade no cenário amazônico. Há 40 anos – e eu estive à frente das denúncias das mazelas provocadas – a descoberta de grande quantidade de ouro no sudeste do Pará provocou a instalação do maior garimpo a céu aberto do mundo, Serra Pelada, um cenário de horror, com ações de desumanidade e destruição ambiental em pleno bioma amazônico. O problema está de volta em toda a sua força, apesar das denúncias feitas por mim e por uma boa quantidade de organizações ambientais e indigenistas.

Há coincidências de pensamento dos que se debruçam sobre o problema para apontar as causas desse recrudescimento: o aumento do preço do ouro no mercado internacional; a desarticulação das agências de controle, fiscalização e repressão; a simpatia do atual governo federal por essa atividade criminosa; uma legislação frágil e facilitadora para tornar legal o ouro produzido de forma ilegal e criminosa; e o investimento maciço das principais organizações criminosas do país no garimpo, para ‘diversificar suas carteiras de negócios’, como publicou recentemente o jornal O Globo.

No momento, os invasores dispersaram, mas a demora das ações de coerção impossibilitou conter o avanço deles. Além disso, o fato de terem sumido não significa que não irão agir mais. Urge mudanças na legislação que inibam e tornem mais difícil transformar o ouro obtido de forma criminosa em ouro de boa procedência. As agências de regulação, de controle, de fiscalização e de combate devem ser reestruturadas, receber recursos, equipamentos, tecnologias e pessoas qualificadas para exercerem suas funções. Mas, isso é esperar demais desse governo.

Só nos resta gritar, denunciar, exigir, mostrar para o mundo e para os brasileiros que enquanto permitirmos que destruam a Amazônia não teremos futuro.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Não aceitarei que o partido com maior legado deixado ao Brasil seja sabotado

É hora de os tucanos encararem suas verdades de frente, vencer o desafio de prévias e chegar ao final do processo limpo, mais magro e com musculatura.

Estava tudo preparado para ser o grande momento do PSDB nos últimos anos, um momento que marcaria o seu reencontro com a militância e suas raízes democráticas, com um apelo forte à reconstrução econômica do país, com sensibilidade social e com a Amazônia colocada na agenda do partido. A votação das prévias, no último domingo, não foi como esperada e, sendo franco, não foi por falta de alertas. Desde o começo, defendi, assim como o candidato João Doria, prévias universais, com direito ao voto de todos os filiados e sem peso diferenciado – um homem, um voto – assim como defendíamos, também, o uso do sistema de urnas eletrônicas, que tão bem fez e faz para nossa Justiça Eleitoral. Mas, tenho certeza que as falhas serão sanadas para que nossos filiados possam escolher o nome que julgam ser o melhor para representá-los nas eleições presidenciais de 2022.

Considero as prévias muito mais que a escolha de um nome, elas são a oportunidade do PSDB se soerguer, voltar às suas origens. Somos o partido da social-democracia e nele não cabe voto a favor de PEC dos Precatórios, não cabe dinheiro de emenda de relator. Claro que para deixar limpo é preciso antes mexer na sujeira, e nada de jogar para baixo do tapete. Quero um PSDB unido, sim, mas por aqueles que realmente representem o espírito tucano. Sou daqueles que prefere uma verdade amarga, que uma doce mentira. É hora de os tucanos encararem suas verdades de frente, vencer o desafio de prévias e chegar ao final do processo limpo, mais magro e com musculatura.

Fui muito claro durante a campanha ao dizer que o PSDB precisa se purgar. Eu vejo que o partido hoje é como um caminhão carregado de maçãs boas, mas tem uma que está podre e está contaminando algumas ao seu redor. Essa maçã tem nome e sobrenome: Aécio Neves. Sou a favor de que, logo após a conclusão das prévias, o PSDB coloque na mesa essa discussão. O que nos interessa um partido com uma considerável representação no Congresso, se esses representantes não jogam a favor do partido, mas de interesses particulares, jogam pelo clientelismo? De que nos serve, a não ser desacreditar o partido, desestabilizá-lo e apequená-lo no cenário nacional, tornando-o chacota nas rodinhas do poder? Sou a favor de desinflar esse balão, retirando o gás nocivo.

Não vamos esmorecer. A democracia já precisou de lutas muito mais travosas que essa. E vamos juntos salvar o PSDB, encher de dignidade, orgulho e esperança os nossos militantes e também o povo brasileiro. Vamos à luta! Ela nem sempre é justa e quase sempre é dura e amarga. Mas a vitória é, sem dúvida, o maior regozijo. Repito aqui a frase imortalizada de um tucano verdadeiro em alma e essência, Mário Covas. “Adversidade? Não me venham falar em adversidade. Diante dela só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer”.