Omissão e confissão pelas mortes de Covid-19 no Amazonas

O Amazonas não tem governo e o povo paga um preço alto por ter um fantoche como governador

O governador Wilson Lima não foi depor na CPI da Covid-19 porque, segundo ele, tinha que cuidar das ações de “segurança” pública em Manaus, após a onda de ataques de uma organização criminosa ocorrida em retaliação à morte de um traficante. Uma grande e, todos sabem, que descabida mentira. Ele não fez nada para enfrentar a ofensiva dos bandidos sobre órgãos públicos, ônibus e sobre toda população, repito: nada!

Agiu do mesmo modo com a pandemia, abrindo e fechando as atividades comerciais sem nenhum critério, comprando ventiladores pulmonares (e nem adequados eram) a preços superfaturados em uma casa de vinhos e asfixiando a vida de milhares de amazonenses. O Amazonas não tem governo e o povo paga um preço alto por ter um fantoche como governador.

Sou reverente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e respeito a ministra Rosa Weber. Vergonhoso é o papel do governador Wilson Lima, que se cala por saber os crimes que praticou. Se a desculpa era a onda de criminalidade, agora, que a situação está controlada pela presença da Força Nacional na cidade de Manaus, o governador deve se apresentar à CPI e o senador Omar, que sempre o apoiou, deve o interrogar. Uma pessoa altiva, apesar de amparada por decisão judicial, nunca se calaria diante de graves acusações. Confesso que em 20 anos de parlamento, como senador e deputado federal, nunca vi postura tão covarde.

Não acho que uma Comissão Parlamentar de Inquérito deva ser uma caça às bruxas, por outro lado, ela deve ser fiel ao seu objetivo e ao compromisso com a população, que anseia por respostas e soluções. Uma pessoa pública que foge de perguntas de parlamentares é indigna. Ele pode escolher entre a desonra de se calar e a de não comparecer à CPI. Sua escolha o desmoraliza ainda mais. É um atestado de culpa.

O certo seria a presidência da CPI da Covid-19 fazer nova convocação ao governador do Amazonas, uma vez que clima é de normalidade quanto à segurança pública em Manaus e em todo o Estado. Seria uma segunda chance para o governador Wilson Lima demonstrar o mínimo de hombridade. Uma coisa é certa, de um modo ou de outro, ele terá de responder pelas mortes dos que não podiam respirar, não recebiam analgésicos e ainda eram amarrados aos leitos até o suspiro final. Ele e os que são cúmplices de seus crimes no governo, ou fora dele, terão de responder pela desumanidade em que chafurdam.

*Diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus

Amazônia, meio ambiente e futuro da humanidade

Para Arthur a “enorme floresta tem uma grande responsabilidade na luta pela saúde do clima”

Todo dia é dia de alerta em defesa da floresta amazônica. Os predadores são vorazes e devemos enfrentá-los. E os motivos estão cada vez mais evidentes, infelizmente, com grande parte da nossa Amazônia brasileira sucumbindo, com recordes de desmatamentos pelo terceiro mês seguido. Trato desse assunto com frequência, sem temor de me acharem repetitivo. Aliás, quanto mais eu repetir, mais creio que terei chances de ser entendido e de ajudar as boas mudanças. Nada melhor que o Dia Mundial do Meio Ambiente, consagrado à ideia de que, sem respeito à ecologia, estratégia econômica nenhuma será boa para a humanidade.

Aproveito que os olhos do mundo estão voltados para os riscos crescentes do aquecimento global, voltados para nossa região. A Amazônia, sua floresta, seus rios, seus índios, seu povo sofrido e sábio. Essa enorme floresta tem uma grande responsabilidade na luta pela saúde do clima. Particularmente, neste 2021, quando ainda estamos sob o impacto devastador da pandemia do Covid-19, deixo para o Brasil e para o mundo alguns inevitáveis questionamentos:

Por que governantes permitem que a Amazônia venha sofrendo seguidos recordes de desmatamento? Por que permitem garimpo em terras indígenas, garimpeiros fora da lei, que destroem todo um patrimônio histórico, econômico, afetivo, construído pelos habitantes tradicionais de nossa terra? Por que ainda temos como ministro do Meio Ambiente um cidadão que se opõe às práticas ambientais corretas, um cidadão cuja proposta escusa, feita em plena reunião de ministros com o presidente, é “passar a boiada” e exportar madeira ilegal extraída de grande floresta? Por que pessoas de baixo caráter continuam derramando o sangue verde de nossa valiosa flora e, igualmente, o sangue de nossa vasta fauna e dos povos tradicionais que merecem sempre muito respeito.

Já passa da hora de se proteger a Amazônia e de se explorar, com a floresta em pé, o maior banco genético do planeta e seu inestimável potencial de economia verde, sustentável. Cientistas alertam que, em poucos anos, poderemos ter uma savana aqui. Líderes globais pressionam para que o governo brasileiro freie, urgentemente, o desmatamento e as queimadas. A insensatez ameaça, inclusive, a soberania nacional sobre a Amazônia. A sabedoria está em unir a cultura acadêmica dos cientistas à sabedoria empírica dos índios e dos caboclos.

Brasil, peço com humildade e amor: cultivemos o sentimento de pertencimento sobre a maior floresta tropical e a maior bacia hidrográfica do planeta. Acabemos, de uma vez por todas, com esse olhar viciado e vicioso de “floresta exótica” e “pulmão do mundo”, que ainda habita o imaginário de tantos.

A Amazônia precisa ser vista como um instrumento de enriquecimento do Brasil e de parceiros nacionais e até internacionais, com as árvores em pé e os rios intocáveis, como resultado da luta de brasileiros e amazônidas de coração largo e mente aberta. Salvemos a Amazônia do desastre. Não traiamos o futuro dos que virão depois de nós.

Unir os brasileiros e pôr fim à cultura do ódio

A proposta foi defendida por Arthur Neto durante painel de conversa com os presidenciáveis, realizado pela presidente nacional do PSDB-Mulher, Yeda Crusius

Está na hora do Brasil unir os brasileiros e enterrar, de vez, a política do ódio, da divisão atrasada do nós contra eles. Essa foi a proposta macro que defendi no painel de conversa com os presidenciáveis, que vem sendo realizado pela presidente nacional do PSDB-Mulher, Yeda Crusius. Ela conversa, como foi comigo, com os candidatos às prévias do partido para presidência da República. Minha proposta fundamental é unir os brasileiros.

Em economia, proponho absoluta austeridade fiscal, cortando forte no forte no custeio para gerar mais recursos aos tão necessários investimentos. Faremos as privatizações e concessões onerosas para fortalecer a economia brasileira, sem custos para o Estado, que será credor de impostos e não mais sustentáculo de empresas que, no resultado final, sempre dão prejuízo. Proponho reciclagem e valorização dos servidores públicos. Sou por um Estado nacional forte e menor, infraestrutural e não empresário, e por uma economia liberal, com algumas ressalvas. Farei o Brasil caber no seu orçamento. Não haverá déficit primário e reduziremos, intensamente, o déficit nominal, com o objetivo ambicioso de, na verdade, zerá-lo.

Temos hoje 14 milhões de desempregados e seis milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego. Então – num eventual governo dirigido por mim – criar empregos será uma prioridade fundamental. Terei absoluto compromisso com a reforma fiscal, como fiz em Manaus durante três mandatos e que colocou a capital da Amazônia como a “menina dos olhos” da Secretaria do Tesouro e das instituições financeiras nacionais e internacionais.

Temos muito a fazer na economia brasileira, como no capítulo urgente das privatizações. Penso em tirar do gesso o orçamento da União, lutar pelo estabelecimento de um novo pacto federativo mais justo e generoso com estados e municípios.

Não tem razão, por exemplo, o Ministério da Saúde (MS) deter tantos recursos, estamos todos vendo a confusão que isso está dando em plena pandemia. Por que não repassar os recursos todos de uma vez para estados e municípios que enfrentam os problemas do dia a dia? O Ministério da Saúde quase não tem hospitais para administrar e, por essa razão, não deveria prender o dinheiro que, no fundo, guarda para fazer barganhas políticas.

Quero governar em cima de um projeto estratégico de país, firmando uma maioria parlamentar sólida para fortalecer a democracia e tocar as reformas estruturais. Vamos manter diálogo permanente com aliados e adversários, porque na democracia temos que dialogar com os opositores da mesma forma que dialogamos com os que pensam como nós. Em viagens oficiais ao exterior, provocarei, inclusive, a presença de um membro governista e outro oposicionista do Senado e da Câmara dos Deputados. Vamos dar transparência a essas missões diplomáticas e possibilitar fiscalização bem de perto por parte da oposição.

Quanto às Forças Armadas, vamos prepará-las para virar uma potência defensiva, é a melhor forma de proteger a soberania nacional e a posse da Amazônia. Precisamos proteger nossa Amazônia, proteger nossas águas, que certamente valerão mais que petróleo na segunda metade deste século. Precisamos valorizar e investir mais em ciência e pesquisa, nos PhDs formais e no enorme saber dos nossos índios e das populações tradicionais. A Amazônia sempre foi, e sempre será, uma das minhas, inarredáveis, bandeiras de luta.

Na diplomacia, o Brasil precisa ser líder inconteste da América do Sul. Hoje, nossa diplomacia está em crise, somos um país desacreditado pelos brasileiros e perante os olhos do mundo. O Brasil precisa mudar radicalmente a política externa vigente, recuperar o prestígio e assumir papel de solucionador de crises, sempre amparado por entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA), além dos países do G7. Pretendo resgatar a justa fama de excelência do Instituto Rio Branco, que voltaria a ter exames mais duros para futuros diplomatas, como também proporei a extinção de embaixadas brasileiras que não tenham razão prática de existir. Isso também é controle de gastos públicos.

A minha ideia é partir, se candidato for, para uma chapa em que eu seja postulante à presidente e uma mulher valorosa aceite compor como vice-presidente. Temos uma luta a travar quando se fala da mulher na política e sobre a necessária busca pela igualdade de gênero para avançarmos na direção de um país mais justo e equilibrado. Sou contra o racismo, contra a homofobia e sou a favor de apertar a legislação contra o feminicídio. Defendo um projeto nacional de segurança pública, com foco no combate ao narcotráfico. E defendo políticas públicas robustas para atender pessoas com deficiências. Coloco a democracia acima de tudo, sem liberdade não se avança para prosperidade econômica e nem para estabilidade política.

O PSDB há anos não fala em parlamentarismo, um pecado mortal. Precisa reinventar-se, nunca tirando ‘P’ do partido. Outros fizeram, mas é uma falsa mudança, mera medida cosmética, sem profundidade nenhuma. Estou propondo um congresso para atualizarmos o conceito de social democracia, porque o que nasceu na fundação do partido está, obviamente, superado. A ideia é contemporaneizar a definição de social democracia, tanto no viés político como econômico. A luta vale a pena.

*Diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus

A terceira onda e a crise econômica e social

Para Arthur Virgílio Neto, o quadro é grave, é ameaçador, para o equilíbrio político e econômico

Tenho me dividido entre São Paulo e Manaus, porque os trabalhos do Centro Preparatório Jurídico (CPJur) e do Núcleo de Educação Política e Renovação exigem esforço intenso nessas duas metrópoles tão estratégicas para o Brasil. Pois bem! A pandemia é um tédio para mim e creio que para todos.

Cheguei a propor para o ministro Guedes, que estimo e respeito, que usasse apenas o resultado de parte das aplicações financeiras dos cerca de 360 bilhões de dólares já acumulados, atingindo como base para o socorro ao povo mais necessitado, praticamente todo o universo dos que hoje experimentam dias duros, desemprego exorbitante e um quadro de desorganização social, do jeito que vemos agora. Isso seria muito bom para desempregados, para os que desistiram de procurar trabalho, para camelôs, autônomos, artesãos, cantores, artistas da noite, pequenas e microempresas em geral.

Vantagens: Não se criaria nenhum imposto novo, ou velho, que somente serviria para desmoralizar a reforma tributária que está sendo decifrada por técnicos do governo e por parlamentares lúcidos. A proposta não atrai taxas extras de inflação. E as reservas, bem poderosas, permaneceriam intocadas, apenas uma parte das aplicações financeiras vindas das nossas reservas cambiais seriam utilizadas. Os recursos do Tesouro não seriam postos em posição de aumentarem o déficit primário – receita menos despesa, sem incluir a conta juros, porque se mede o outro déficit, o nominal, incluindo nos cálculos essa mesma conta juros. Mas, o déficit primário pode muito bem ter ingressado em números de trilhão.

O quadro é grave, é ameaçador, para o equilíbrio político e econômico. Por isso, fiz essa sugestão para socorrer o futuro da nação. Nada de mais endividamento, não teria mais inflação. Usar-se-iam apenas os resultados das aplicações das reservas cambiais. O atendimento ao povo necessitado seria mais constante, volumoso, forte.

Cientistas respeitáveis temem mais ondas. O isolamento social poderia fracassar e ser, de novo, prejudicado pela falta de recursos. Mas, com a família passando fome, os responsáveis pela sua prole sairão, inevitavelmente, às ruas para alimentar os seus queridos. Entre o empirismo e suas fórmulas “mágicas” e a ciência, fico abertamente com esta última, fico com os cientistas.

Sabem as leitoras e os leitores que, por exemplo, a decretação de um lockdown exige dinheiro nas mãos do povo, regras duras de isolamento social e curta duração. A Covid-19, reforçada pelas novas cepas, cada vez mais resistentes e letais, tem de ser enfrentada pelo bom comportamento aqui relatado e por campanhas vitoriosas de vacinação em massa. O Brasil vacina com a lentidão de um jabuti, quando a postura correta seria correr como os campeões de Fórmula 1.

Bom fim de semana a todos!

*Diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus

Confira artigo de Arthur Neto: Ciência versus Negacionismo

Diplomata fala sobre a importância da pesquisa brasileira no combate à Covid-19

Manaus – Esta semana tivemos mais um rico debate pelo Núcleo de Educação Política e Renovação (NEPR) do Centro Preparatório Jurídico (CPJUR), o qual tenho a honra de coordenar. Um projeto que ainda está no seu terceiro encontro, mas que já demonstra que nasceu para ser grande, porque fomenta a democracia, a formação cidadã e a ética na administração pública.

Com o tema: “A importância da pesquisa brasileira no combate à Covid-19”, prestigiei uma verdadeira aula do pesquisador e médico infectologista Marcus Lacerda e do psicólogo e epidemiologista Eduardo J. S. Honorato, ambos especialistas em saúde pública. Livre da bandeira partidária, o que ficou provado é que o Brasil vive graves e doloridos reflexos do negacionismo, do não respeito ao isolamento social e às medidas de prevenção, da falta de fé nas vacinas e de um governo central que direcionasse o país para o efetivo enfrentamento da pandemia.

A descrença na pesquisa e na ciência, aliás, se tornou ainda mais evidente nesse período, com corte nos investimentos direcionados à área. Por outro lado, vimos gastos de custeio sendo aumentados no Congresso Nacional. Uma vergonha, desrespeito ao povo brasileiro, desrespeito à vida. E o resultado dessa marcha contra à sensatez na saúde pública é o triste número de 400 mil brasileiros e brasileiras perderam a vida por causa do novo coronavírus e, no Amazonas, muitos foram cruelmente asfixiados pela falta do oxigênio.

Os que sobrevivem ao vírus – ou por não terem sido infectados ou por conseguiram se recuperar – precisam lidar com uma economia aos frangalhos, com PIB em queda, alta taxa de desemprego e inflação crescente. É um cenário desanimador, mais ainda porque não se tem perspectivas reais de recuperação. A reforma tributária já é dada como morta e o Plano Nacional de Imunização segue em passos de jabuti.

A vacina salva vidas, e diria que duplamente. Salva quando auxilia o sistema imunológico a conter o agravamento da Covid-19 no organismo e salva quando é tida como a única alternativa comprovadamente eficaz para se promover a retomada da economia. O Brasil é o único país do mundo que ainda discute a eficiência da cloroquina como tratamento precoce para Covid-19, uma grande mentira! Brasil vira as costas para a ciência e vai na contramão do caminho para minimizar os efeitos da pandemia.

É como disse o doutor Eduardo Honorato, “Ser cientista se tornou um ato de resistência no Brasil”. Que sejamos todos resistência!

Balbina e Volkswagen: dinheiro do povo destruindo a floresta

Segundo Arthur, a construção dessa usina causou uma perda inominável para a natureza e o futuro de nossa gente

Manaus – Meu primeiro discurso como deputado federal foi sobre a questão ambiental. Afinal, naquele período autoritário as decisões eram quase sempre tomadas de cima para baixo. Foi o caso, por exemplo, da hidrelétrica de Balbina, no nosso Amazonas.

Nesse caso, os tecnocratas de Brasília, amparados na força dos que nos governavam sem a consagração do voto popular, decidiam sem conhecimento prático de causa e o resultado foi funesto: no primeiro dia de funcionamento da usina constatou-se que ela começava sua trajetória já insuficiente para atender 100% da demanda de Manaus. E a construção dessa usina deficiente custou a destruição de muitas e muitas árvores, o “afogamento” de pedras preciosas, uma perda inominável, enfim, para a natureza e o futuro de nossa gente.

A leitora, ou o leitor, deve estar se indagando se a hidrelétrica era, afinal, necessária. Respondo que sim, emendando com uma pergunta também: Ali era o local? Seria necessária tanta devastação e tanta submersão de pedras preciosas? Outro questionamento: Teria sido correto escreverem e seguirem o “manual” da construção à risca, sem levar em conta que a obra já nasceria insuficiente? Que populações seriam prejudicadas? Que não era inteligente desprezar a inteligência e experiência de engenheiros e outros profissionais do Amazonas e da Amazônia?

Balbina nasceu em meio a tantos desastres, a ponto de eu poder selecionar aqui algo bom, que nasceu do caos que estava posto. Invadiram terras dos waimiri e dos atroari, duas etnias indígenas que nos levam a uma cultura bastante relevante. Pois bem, amigo leitor, amiga leitora, os waimiri e os atroari eram inimigos figadais. A destruição em torno de uma hidrelétrica insuficiente levou as duas etnias a se unirem para enfrentar o inimigo comum. Aquele inimigo que, dos gabinetes confortáveis de Brasília, tomava decisões insensatas, sem sequer consultar os seres humanos que poderiam ser prejudicados. Sem levar em conta riquezas que poderiam ser desperdiçadas. Vinha tudo goela abaixo dos brasileiros e brasileiras. Por isso, cultuo tanto a democracia. Como dizia Churchill, democracia é um sistema político com muitos defeitos, porém, infinitamente melhor que todos os demais modelos. Principalmente as ditaduras.

Volto agora ao meu discurso de estreia na Câmara dos Deputados. A ideia era reforçar as gravíssimas denúncias do esbulho praticado pela gigante Volkswagen, em conluio com a infeliz e malfadada Sudene da época. Esta, amparada numa lei absurda, permitia abatimentos “generosos” no imposto de renda de empresas que implantassem fazendas de gado no sul do Pará. A Volkswagen, então, provocou imenso incêndio na floresta, beneficiou-se dos incentivos fiscais e jamais promoveu qualquer atividade econômica no local. Ganhou dinheiro para desertificar um pedaço da Amazônia. E hoje, enquanto a Zona Franca garante 95% de floresta original para o Amazonas, o Estado do Pará conta com menos de 40%.

O discurso foi agitado. Apartes e mais apartes vindos do governo e dos meus companheiros oposicionistas. Discussões paralelas. Troca de empurrões e, de minha parte, duras críticas ao regime autoritário. Ampla cobertura da imprensa, dos telejornais, das rádios de todo o país. E estava plantada a semente do parlamentar ativo e altivo que tentei ser enquanto lá estive.

Cuidava dos temas nacionais, mas não esquecia a minha terra. A defesa do Polo Industrial de Manaus era ponto essencial na minha trajetória e do meio ambiente também. Minha meta era transformar a Amazônia e o Amazonas em temas nacionais e não mais paroquiais. Em temas nacionais e internacionais igualmente. Hoje, percebe-se que a intuição do jovem parlamentar não se distanciava do realismo, da realidade. Pois está aí mesmo a inegável condição de região mais importante para o Brasil e para o mundo. Só não vê quem se obstina a não enxergar fatos concretos e irreversíveis, como a Amazônia, ‘terra brasilis’ e de profunda relevância planetária.

Feliz domingo para a família amazonense!

Amazônia – maior banco genético do mundo

Para Arthur Virgílio Neto, o desmatamento ilegal na Amazônia é crime imperdoável contra a vida, contra o futuro, contra, inclusive, a soberania nacional

Inicio falando um pouco de Amazônia e, sem dúvida, da principal instituição que a compõe: o Estado do Amazonas.
Aqui conseguimos manter, mesmo em tempo de pandemia e crise econômica, cerca de 95% da cobertura florestal original, contra menos de 40% no Pará, o segundo maior ente da federação brasileira. Claro que não desconheço a relevância dos demais Estados da região e nem deixo de me interessar pelo que se passa nos Estados amazônicos do subcontinente sul-americano. Cada árvore preservada importa muito. Eis porque lamento o quadro assustadoramente perigoso e crescente do desmatamento ilegal. É crime imperdoável contra a vida, contra o futuro, contra, inclusive, a soberania nacional sobre a parte tão nobre da parte que lhe cabe na Amazônia.

Alguém pode indagar: “Arthur, você é contra o agronegócio?”. Resposta rápida e clara: claro que sou a favor, mas nos locais propícios para essa atividade tão relevante na geração de empregos e renda, bem como para os resultados positivos de nossa balança comercial. Penso ter esclarecido que sou apoiador e admirador do agronegócio. Competitivo a ponto de incomodar países como França e EUA, além de ser uma das principais pautas dos debates e conflitos na rotina da Organização Mundial do Comércio, a relevante OMC.

Posso, então, afirmar que seria insano permitirmos o agronegócio no coração da Amazônia. A pata do boi, a soja e outros produtos de valor e excelente aceitação nos mercados internacionais. Afinal, é inquestionável que essas atividades renderiam frutos por duas ou três décadas… e desertificariam a grande floresta, minguando os rios grandiosos, mexendo negativamente com o clima mundial e expondo o Brasil, até mesmo, a uma intervenção militar, sob a égide da ONU.

O que deve ser trabalhado pelos amazônidas é a exploração, amparada nos órgãos científicos como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Emílio Goeldi, universidades e o binômio cientistas formais e cientistas empíricos. Os formais – os estudiosos e PHDs – são imprescindíveis. Os empíricos – índios e populações tradicionais – idem. Juntos, eles são a chave para o crescimento sustentável desta região e deste país. Isso porque os índios ou ribeirinhos conhecem, como ninguém, a floresta e seus segredos, sabem como entrar e sair da mata em segurança; enquanto os PHDs têm o conhecimento necessário para criar os fármacos, por exemplo, as fragrâncias e uma infinidade de produtos a partir da biotecnologia.

No próximo artigo, prosseguirei a partir deste ponto. E iremos longe, no debate e na luta, cheia de razões, para fazermos do maior banco genético do mundo um instrumento de enriquecimento do Brasil, da Amazônia, dos brasileiros e dos amazônidas.

*Diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus

Para quem sonha escuridão, luzes de liberdade

Segundo ex-prefeito Arthur Virgílio, “o presidente da República, Jair Bolsonaro, visivelmente apostava em atrair as Forças Armadas para uma aventura autoritária e, obviamente, destinada ao fracasso”

Manaus – A democracia brasileira, que enrijece suas instituições cada vez mais, saiu vitoriosa no recentíssimo episódio que ainda vai desenrolando seus últimos momentos. O presidente da República, Jair Bolsonaro, visivelmente apostava em atrair as Forças Armadas para uma aventura autoritária e, obviamente, destinada ao fracasso.

Isso teria um custo político elevado para o Brasil e para um povo generoso, que deseja o fim da pandemia de Covid-19 e o retorno dos empregos, do crescimento econômico sustentável e mais e mais direitos e liberdade de ir e vir e de expor o que pensa e sente, até porque sabe que o Brasil é grande e significativo, jamais minúsculo e inexpressivo.

Há quem negue os valores democráticos, e o presidente Bolsonaro é exemplo disso, mas a maioria tem ciência de que autoritarismo é sinônimo de atraso econômico, cerceamento à cidadania, comprometimento do meio ambiente, opressão às vozes discordantes e trevas intelectuais, ao invés de criação e luzes

Bolsonaro pretendia obter a edição de medidas excepcionais para limitar, à força, a revolta brasileira com o boicote presidencial à luta, que deveria ser de todos, contra a pandemia e a favor da vacinação, urgente e em massa, de todos os brasileiros. Afinal, “sem saúde não há economia”, como disse – sabiamente – o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Nessa luta entre os militares que saíram e o caudilho que ficou, venceram os que se foram, resguardando suas biografias e mostrando ao Brasil que aqui não existe mais espaço para golpes e aventuras e aventureiros típicos de repúblicas bananeiras.

Ao invés de nomes como Rafael Trujillo, da República Dominicana; François e Jean-Claude Duvalier e seus tontons macoûtes, do Haiti; Marcos Pérez Jimenez e o início da tragédia venezuelana; nós aqui somos Juscelino Kubitscheck, Fernando Henrique, Joaquim Nabuco, Mario Covas e outros ícones da democracia brasileira.

Ditadura nunca mais! Os generais Fernando Azevedo e Silva e Edson Leal Pujol, o almirante Ilques Barbosa Junior, o brigadeiro Antônio Carlos Moretti Bermudez e seus camaradas acabaram de dar essa lição cidadã ao arrivista que sonhava com a escuridão, mas terá de se conformar com as luzes brilhantes da liberdade.