Para Arthur Virgílio Neto, o desmatamento ilegal na Amazônia é crime imperdoável contra a vida, contra o futuro, contra, inclusive, a soberania nacional

Inicio falando um pouco de Amazônia e, sem dúvida, da principal instituição que a compõe: o Estado do Amazonas.
Aqui conseguimos manter, mesmo em tempo de pandemia e crise econômica, cerca de 95% da cobertura florestal original, contra menos de 40% no Pará, o segundo maior ente da federação brasileira. Claro que não desconheço a relevância dos demais Estados da região e nem deixo de me interessar pelo que se passa nos Estados amazônicos do subcontinente sul-americano. Cada árvore preservada importa muito. Eis porque lamento o quadro assustadoramente perigoso e crescente do desmatamento ilegal. É crime imperdoável contra a vida, contra o futuro, contra, inclusive, a soberania nacional sobre a parte tão nobre da parte que lhe cabe na Amazônia.

Alguém pode indagar: “Arthur, você é contra o agronegócio?”. Resposta rápida e clara: claro que sou a favor, mas nos locais propícios para essa atividade tão relevante na geração de empregos e renda, bem como para os resultados positivos de nossa balança comercial. Penso ter esclarecido que sou apoiador e admirador do agronegócio. Competitivo a ponto de incomodar países como França e EUA, além de ser uma das principais pautas dos debates e conflitos na rotina da Organização Mundial do Comércio, a relevante OMC.

Posso, então, afirmar que seria insano permitirmos o agronegócio no coração da Amazônia. A pata do boi, a soja e outros produtos de valor e excelente aceitação nos mercados internacionais. Afinal, é inquestionável que essas atividades renderiam frutos por duas ou três décadas… e desertificariam a grande floresta, minguando os rios grandiosos, mexendo negativamente com o clima mundial e expondo o Brasil, até mesmo, a uma intervenção militar, sob a égide da ONU.

O que deve ser trabalhado pelos amazônidas é a exploração, amparada nos órgãos científicos como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Emílio Goeldi, universidades e o binômio cientistas formais e cientistas empíricos. Os formais – os estudiosos e PHDs – são imprescindíveis. Os empíricos – índios e populações tradicionais – idem. Juntos, eles são a chave para o crescimento sustentável desta região e deste país. Isso porque os índios ou ribeirinhos conhecem, como ninguém, a floresta e seus segredos, sabem como entrar e sair da mata em segurança; enquanto os PHDs têm o conhecimento necessário para criar os fármacos, por exemplo, as fragrâncias e uma infinidade de produtos a partir da biotecnologia.

No próximo artigo, prosseguirei a partir deste ponto. E iremos longe, no debate e na luta, cheia de razões, para fazermos do maior banco genético do mundo um instrumento de enriquecimento do Brasil, da Amazônia, dos brasileiros e dos amazônidas.

*Diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus

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