Segundo Arthur Neto, cenário mundial aponta para possíveis intervenções de países na Amazônia

Há três países mais que relevantes e que esperam que um deles aja, efetivamente, em busca de seu objetivo. Esse gesto “libertaria” os dois restantes para cometer cada um, a sua transgressão: EUA, China e Rússia. Se, este último, invadir a Ucrânia, virá a demagógica “severa” reação prometida, com falsa ingenuidade pelo presidente Biden, que se sentirá mais à vontade para, com autorização da ONU, intervir na Amazônia, acompanhado pela Inglaterra e, certamente, pela França, com uma razão e um pretexto. Razão: o Brasil não vem cumprindo nenhuma meta acordada na Cúpula do Clima de Paris, de 2015. Pretexto: sabem que a riqueza da biodiversidade é trilionária e também que faltará, cada vez mais, água doce, potável e de fácil extração no mundo. O desespero de muitos países em dessalinizar águas marinhas não resolverá o drama. As águas dos grandes rios amazônicos poderão virar produto de exportação, a partir de certo momento da segunda metade deste século.

A China, que já faz e desfaz em Hong Kong, pretende agregar ao seu domínio as províncias que dela se desgarraram faz tempo. A China quer mesmo é Taiwan, dona de mais de 70% dos semicondutores produzidos no planeta. Ainda não invadiram Taiwan porque os Estados Unidos vetam veementemente tal atitude. Guerra não haverá, pois, as economias da China e dos EUA estão tão dependentes uma da outra, que um antagonismo irreversível quebraria ambos os sistemas econômicos, levando o resto do mundo de roldão. Por isso que Taiwan ainda não foi anexada ao império chinês, porque os EUA não conseguem imaginar o quase monopólio dos semicondutores em mãos de um rival tão forte, que negociaria duramente com todas as nações, aí incluído o império americano, os novos termos.

Em suma, o que transgredir primeiro abrirá caminho e legitimação para os outros dois “parceiros” indiretos. Os EUA querem a Amazônia, muito fortalecidos pela “ajuda” que o primarismo bolsonarista não se cansa de fornecer. Lembremo-nos sempre que, atualmente, o desmatamento está sem controle. A Rússia, além da Ucrânia, pretende reunir todos os países vizinhos que fizeram parte da extinta União Soviética. Em tempo, os cidadãos dessas nações odeiam russos e Rússia. E a China poderá retomar Taiwan e tomar posse do filão dos semicondutores, sem maiores atritos com os novos donos da Amazônia.

Haveria muita inquietação, mas a realidade e a diplomacia resolveriam tudo, até porque os EUA e seus parceiros teriam boa capacidade de barganhar com a China vantagens vindas da Amazônia. E meu sentimento é de que a Rússia se apoderará, sim, da Ucrânia; a China, em algum momento, submeterá Taiwan; e os EUA, repito, auxiliados pela desastrosa política ambiental brasileira, estão pensando no clima, no aquecimento global já visível claramente, mas também nas riquezas da biodiversidade e das águas doces, potáveis e de fácil extração da Amazônia. Aguardemos os próximos capítulos de uma novela trágica do século XXI.

* É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos, deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

Posts recomendados

Nenhum comentário ainda, adicione sua voz abaixo!


Adicionar comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *