O Brasil alcança o lamentável segundo lugar, no mundo, em vidas ceifadas pela pandemia da Covid-19

Esta semana superamos a triste e amarga marca de 600 mil mortes por Covid-19 no País. Não conheço um brasileiro que não tenha chorado a perda de um familiar, um amigo, um conhecido, um ídolo, nesses tempos angustiantes de pandemia. Com isso, o Brasil alcança o lamentável segundo lugar, no mundo, em vidas ceifadas por essa pandemia sorrateira e cruel. Em números absolutos, perdemos quase o dobro de pessoas mortas em 10 anos de sangrenta guerra civil na Síria.

A perda leva ao sentimento de desamparo, duro desamparo! A todos que perderam pessoas queridas ou ainda enfrentam a doença, minha solidariedade de sempre. Rezo e oro para que tenhamos forças para atravessar as tormentas que certamente teremos um pela frente. Falo por experiência própria, pois estou entre os que contraíram a implacável Covid. Sou, porém, vítima inequívoca da pandemia, porque perdi muita gente querida e, por essas pessoas, derramei lágrimas que me marcaram a alma e o coração.

Expresso, então, minha preocupação com o futuro das pessoas, dos jovens, dos trabalhadores, dos que sobreviveram à pandemia e continuam com graves problemas a enfrentar nos tempos duros que estão vindo. Sinto falta de políticas públicas eficazes, que possam contemplar essa nova clientela, nos aspectos físicos, psicológicos, sociais e econômicos.

A pandemia e o negacionismo tiraram do Brasil, até agora, mais de 600 mil vidas. Além da tristeza, restou um impacto econômico estimado em R$3,8 trilhões, equivalentes a cerca de 51% do PIB do ano passado. Grave situação!

As dificuldades deverão aumentar. E aí mais Covid-19 significa menos gente com capacidade de trabalhar, mais comorbidades, menor capacidade de recuperação da economia brasileira.

Somam-se a esse quadro a fome e um brutal desemprego, da ordem de 15 milhões de pessoas, fora os 6 milhões que desistiram de retornar ao mercado de trabalho. A inflação mostra suas garras e empobrece, ainda mais, os mais pobres, voltando à depreciativa marca de dois dígitos, se os números forem atualizados. Um quadro cada dia mais desalentador.

Observo, com precaução, alguns gestores liberando a realização de grandes eventos, como o Carnaval, e já discutindo a liberação do uso das máscaras. Isso alerta os meus sentidos, pois está claro que a pandemia não acabou e há novas variantes no ar. Claro que a aplicação das vacinas em todo o território nacional ampliou nossas chances de enfrentar o vírus, senão pela imunização total, mas dando ao organismo maior chance de enfrentar a doença sem chegar à letalidade. Aliás, as vacinas contra a Covid-19 deverão se tornar periódicas, como já são as que combatem as Influenza, por exemplo.

Com imenso pesar e toda a sinceridade de quem geriu uma metrópole que virou epicentro da doença no mundo, deixo uma mensagem de clamor à população para que, mesmo que as regras sanitárias sejam flexibilizadas, continue ela apostando na higienização, no uso de máscaras e, sem dúvida alguma, na vacinação em todas as doses exigidas pela ciência. A palavra de ordem é preservar a saúde. Sem ela, não há economia, nem empregos e nem futuro.

*Diplomata, é diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico (CPJUR), foi deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Conselheiro da República, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos, três vezes prefeito da capital da Amazônia.

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