Thiago foi adido cultural em Santiago (Chile) e não teve qualquer dúvida em acolher os exilados brasileiros

Thiago de Mello foi um grande amigo, companheiro da Academia Amazonense de Letras, companheiro de vida. Era poeta maior que sua poesia, uma glória da literatura latino-americana. Filho dos Andirás, em Barreirinha, onde construiu uma belíssima casa, projetada pelo também imortal arquiteto brasileiro Lúcio Costa. Tinha um acervo enorme de fotos, quadros, bilhetes – entre eles um do Pablo Neruda – obras autênticas que foram doadas para o Museu da Cidade, durante a minha gestão como prefeito de Manaus, e que se transformaram em uma preciosíssima exposição.

Thiago foi adido cultural em Santiago (Chile) e não teve qualquer dúvida em acolher os exilados brasileiros, como José Serra e Paulo de Tarso, por exemplo, dando também grande apoio ao presidente Fernando Henrique e a tantos outros. Foi um nome de grande importância para esse momento da história brasileira, que estava sujeita a um regime autoritário.

Thiago era tudo isso e muito mais. Uma verdadeira expressão de ‘amazoneidade’. Simples, com suas roupas brancas e sandálias, a cabeça branquinha dava a identidade de quem viveu muito e de forma grandiosa. Estava à frente de seu tempo e, ainda assim, carregava a tradição de suas terras amazônicas, com raízes fortíssimas na região.

Talvez ninguém tenha falado o ‘caboquês’ tão bem quanto o Thiago de Mello. Porque falava da alma, do coração, de seu imenso amor e sentido de pertencimento por essas terras. “Filho da floresta, água e madeira vão na luz dos meus olhos, e explicam este jeito meu de amar as estrelas e de carregar nos ombros a esperança”, como ele próprio se definiu.

Você partiu, meu amigo. Mas, não seu coração, sua alma, sua mente brilhante, essas nunca se irão. Você será eterno em nossos corações. Estamos de luto, mas sua inspiração nos faz seguir em luta.

*É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico. Foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.

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